Página inicial > Reforma: entenda o que é carga tributária e porque ela mantém o Brasil desigual
Reforma: entenda o que é carga tributária e porque ela mantém o Brasil desigual
11/07/2023 08:40
Sistema faz com que mais ricos paguem proporcionalmente menos impostos que mais pobres
Clívia Mesquita
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
10 de Julho de 2023 às 15:15
A nossa carga tributária incide majoritariamente sobre o consumo, ou seja, está embutida nos preços dos produtos que adquirimos - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
As discussões em torno da reforma tributária, aprovada pelo Congresso Nacional na última sexta-feira (7), deixaram em aberto uma série de questões para grande parte da população, entre elas, o que é carga tributária e por que ela precisa passar por uma reforma. O Brasil de Fato conversou com o auditor fiscal Dão Real Pereira dos Santos, do Instituto Justiça Fiscal (IJF), para entender o que está em jogo quando tratamos do sistema tributário brasileiro e porque ele sobrecarrega a renda das famílias mais pobres.
No último ano, cerca de 33% do PIB, um terço da produção total do país, foi feita a partir de recolhimento de tributos. Com esse recurso, o Estado cumpre funções constitucionais como, por exemplo, avançar na garantia dos direitos sociais previstos no Art. 6: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência, proteção à maternidade e à infância, e assistência aos desamparados.
A carga tributária é a principal forma de arrecadação do governo, utilizada não só no Brasil, como em diversos países das sociais democracias europeias para promover condições básicas de sobrevivência para a população.
Dão Real explica que o sistema tributário é “um instrumento que pode viabilizar ou inviabilizar a implementação do Estado de bem-estar social”, instituído no Brasil com a Constituição Federal de 1988. Em outras palavras, a estrutura tributária dita as regras de como serão arrecadados os tributos para custear serviços e políticas públicas universais, como o Sistema Único de Saúde (SUS).
Injustiça tributária
Todos os brasileiros pagam tributos, ou impostos, em quase tudo que compram, vendem ou consomem. Em geral, os tributos incidem sobre as bases do consumo, da renda e do patrimônio de pessoas e empresas. No entanto, mais da metade de tudo que o país arrecada em tributos é pago pelo consumidor.
Na prática, a tributação sobre determinada mercadoria é igual para quem ganha muito e quem ganha pouco. O resultado é que, ao contrário dos mais ricos, as famílias mais pobres acabam pagando mais porque gastam toda sua renda adquirindo produtos de primeira necessidade como alimentação e vestuário.
Para Dão Real, o modelo de arrecadação em vigor penaliza os mais pobres ao ferir o princípio da justiça tributária. Isso porque o sistema brasileiro é centrado em tributos indiretos, sobre o consumo, que estão no preço de tudo que compramos.
“Se o pobre gasta toda sua renda no consumo e o rico gasta apenas uma parte da sua renda, em relação à renda total, o tributo sobre consumo onera mais o mais pobre. O mais rico gasta 10% da sua renda no consumo. Aqueles 10% da renda no consumo paga o mesmo tributo que o pobre em 100% da sua renda”, explica o vice-presidente do Instituto Justiça Fiscal (IJF).
Em torno de 60% de tudo que o país arrecada é pago pelo consumidor porque está embutido no preço dos produtos e serviços. Somente 20% incide sobre renda e apenas 4% sobre patrimônio. Outro "efeito perverso" do sistema fiscal é "dar com uma mão e tirar com a outra", aponta Dão.
"Se eu cobro mais tributos dos pobres e devolvo políticas sociais para os pobres, o resultado é zero a zero. A capacidade do Estado de promover redução de desigualdades, promover o desenvolvimento econômico, fica limitada porque estou tirando dinheiro justamente daqueles que podem consumir e aumentar a demanda da indústria".
Como a tributação sobre renda e patrimônio representa uma fatia menor da tributação, a parcela que sobra da renda dos mais rico é menos tributada. Assim, o sistema tributário reproduz desigualdades. "Por isso que o mais rico paga menos tributo que o mais pobre, proporcionalmente, a renda de cada um”, complementa.
Atraso
A atual configuração tributária vai na contramão de países desenvolvidos. Em relação a países como Estados Unidos e Canadá, a estrutura do sistema brasileiro é invertida. Isso significa que ao aumentar a alíquota sobre grandes fortunas, patrimônios e heranças, esses países conseguiram reduzir a tributação sobre consumo e desonerar os mais pobres.
“O sistema tributário nesses países são progressivos, ou seja, quando a gente cobra tributo reduz desigualdades. No Brasil, acontece ao contrário, quando a gente cobra tributos aprofundamos desigualdades. Essa é uma injustiça do sistema”, constata Dão. O que de fato pode trazer mudanças nesse quadro é a tributação sobre rendimentos, por exemplo, nas alíquotas do Imposto de Renda. A discussão desse tema está prevista para uma segunda etapa da reforma.
Historicamente, o sistema tributário sofreu retrocessos que beneficiaram as classes dominantes. Já no ano seguinte da promulgação da Constituição, o imposto de renda da pessoa física abaixou de sete alíquotas progressivas até 45% para duas de máximo 25%. Depois, foram implementados dois artigos na Lei 9.249/95 que tornaram isentos de imposto lucros e dividendos distribuídos.
Para Dão Real, a retirada dos super-ricos da tributação serve para inviabilizar os objetivos constitucionais e encontra resistência até os dias de hoje pelo mesmo motivo. Em linhas gerais, os setores mais ricos estariam sinalizando desde os anos 1990 não estarem dispostos a financiar o Estado de bem-estar social. Como consequência, o Estado aumenta a tributação sobre o consumo e rebaixa o imposto de renda para faixas mais baixas.
"Quem ganha lucros e dividendos são as pessoas de mais alta renda. Quem ganha salário são as pessoas de baixa renda. Quem têm grandes riquezas, a partir de 1995 passou a não pagar mais imposto de renda. De novo nós tiramos da conta os mais ricos", finaliza Dão.
Descomplicando o sistema fiscal
Tributos - São valores arrecadados pelo Estado para custear direitos constitucionais como saúde e educação. Podem ser cobrados na forma de imposto, taxa ou contribuição.
Imposto - É o tributo mais importante cobrado pelo Estado para financiar gastos sociais e serviços públicos. No Brasil, temos impostos federais, estaduais e municipais.
Sistema tributário - Conjunto de regras que estabelece como os tributos, ou impostos, serão arrecadados.
Alíquota - Quota ou percentual usado para calcular o valor final de um imposto que deve ser pago.
Imposto de renda - Existe em diversos países, o imposto sobre rendimento é o principal imposto dos Estados de bem-estar social porque permite cobrar mais de quem tem mais.
Ricardo Antunes adverte sobre os efeitos nefastos da aprovação do PL dos Aplicativos para a classe trabalhadora em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos.
Instituto Humanitas Unisinos entrevista Ricardo Antunes
No Brasil de 2023,...
Ministério da Gestão propõe aumentar benefícios e negociar aumentos com cada categoria separadamente
Vinicius Konchinski
Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Técnicos, docentes e estudantes do campus São Paulo do IFSP se reúnem no primeiro dia...
Mais de 50 entidades, incluindo centrais, sindicatos, partidos de esquerda e movimentos sociais e estudantis, uniram-se nesta terça-feira (21) e criaram o Comitê Palestina Livre.
O encontro histórico ocorreu no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e contou com a presença da Frente...
Denúncias graves apontam assédio e direcionamento político no tradicional jornal paulista. Agora, ele será alvo de investigação
Por Redação RBA
REPRODUÇÃO
Este procedimento, que precede um inquérito civil, tem potencial para desencadear ações legais. Entre...
Servidores e servidoras do Justiça Federal, da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho realizaram na sexta-feira (17) uma manifestação mesmo sob chuva, em frente ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre.
Com apitos e cartazes, os trabalhadores e as...
Estima-se que até 1 milhão de escravizados foram desembarcados naquele local. Sítio arqueológico foi descoberto em 2011
Por Redação RBA
Tomaz Silva/Agência Brasil
0
1
São Paulo – Construído em 1811, o Cais...
Expediente em datas festivas para certas categorias só será liberado após acordo entre trabalhadores e patrões
Vinicius Konchinski
Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Funcionamento de supermercados em feriados vai depender de acordo entre patrão e trabalhador -...
Clima ameaçador e imprevisível: enquanto parte do Brasil encara um calor inédito, a região Sul do país volta a se preocupar com as chuvas
Por Brasil de Fato
Publicado 15/11/2023 - 12h51
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Ondas de calor cada vez mais intenso...
Ao 'BdF Entrevista', economista alerta para necessidade de buscar caminhos para renovação do Congresso no futuro
Redação
Eduardo Moreira (à direita na imagem) foi entrevistado pelo jornalista José Eduardo Bernardes - Reprodução
Tem condições do Brasil...
Grupo já havia entregado o "Machado de Prata" a Germano Bremm, titular da SMAMUS
sul21@sul21.com.br
Em protesto contra a concessão de parques e praças públicas, integrantes de entidades ambientalistas entregaram, nesta terça-feira (7), o troféu “Motosserra de...
MST e Consórcio Nordeste avançam em acordo com instituições chinesas que terá como marco inicial o envio de 30 máquinas
Mauro Ramos
Pequim|China |
Um trator Huili, uma das máquinas com destino ao Brasil. - Juliet Xiao
Entre novembro e dezembro, uma leva...
Um grupo de trabalho permanente, vinculado à Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, irá acompanhar a aplicação no Rio Grande do Sul da lei que criou o piso nacional da enfermagem.
A decisão foi tomada ao final da audiência pública, realizada na manhã de...