Plantas podem ser solução mais eficiente para limpeza de rios urbanos

09/11/2017 08:21
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Crédito: foto - Conexão Planeta

Plantas podem ser solução mais eficiente para limpeza de rios urbanos

Estudo realizado por pesquisadora da USP mostra que há uma grande variedade de espécies de plantas documentadas pelo potencial de tratamento e/ou mitigação de poluentes

Setenta e quatro espécies de plantas, entre aquáticas, herbáceas, arbustos e árvores, utilizadas nas chamadas infraestruturas verdes, podem ser capazes de tratar de maneira mais eficiente as águas poluídas da maior cidade do Brasil, São Paulo.

Esta é a conclusão a que chegou a bióloga Maitê Bueno Pinheiro, especialista em Ambiente e mestre em Ciências pela FAU-USP, em seu trabalho de dissertação de mestrado “Plantas para infraestrutura verde e o papel da vegetação no tratamento das águas urbanas de São Paulo: identificação de critérios para seleção de espécies”.

Segundo Maitê, boa parte da poluição que atinge os rios e córregos urbanos é trazida pelo escoamento das águas das chuvas sobre as superfícies impermeáveis, sendo este tipo de poluição conhecida como ‘difusa’. Há ainda aquela oriunda do descarte ilegal de esgoto industrial e doméstico. “As plantas, por sua vez, possuem mecanismos naturais para a captura e tratamento de uma variedade de poluentes orgânicos e inorgânicos e podem ser usadas como filtros em certos tipos de jardins, como os de chuva e biovaletas, permeando a malha urbana, e assim, contribuir para despoluição e/ou mitigação da poluição do escoamento antes deste atingir os corpos d´água”, explica a bióloga, em entrevista ao Conexão Planeta. “As plantas também podem ser utilizadas diretamente nas margens de rios e córregos, a partir da criação de alagados construídos, ou mesmo, sobre as águas nos alagados flutuantes”.

Alagados construídos e/ou flutuantes são tecnologias ecológicas de tratamento das águas e efluentes utilizadas em diversos países, que imitam as funções das zonas alagadas naturais. “No meio ambiente, as zonas alagadas funcionam como “rins da terra”, pois agem como verdadeiros filtros das impurezas trazidas pelas águas”.

Em sua pesquisa, Maitê identificou 60 espécies de plantas nativas, sendo 58 delas encontradas no estado de São Paulo, e 14 exóticas. Para cada uma delas, a bióloga apontou a principal característica, relacionada ao potencial de tratamento de poluentes, além de tê-las separado por “dispositivo de Infraestrutura Verde”. “Este é o termo usado para se referir a uma rede de paisagens multifuncionais, incluindo paisagens naturais e espaços tratados com tipologias paisagísticas de alto desempenho (como os jardins de chuva, biovaletas, telhados verdes, por exemplo), que realizam o manejo das águas na fonte, ao mesmo tempo em que lidam com outras questões infraestruturais urbanas, como mobilidade, espaços para as pessoas e habitat para os animais”, afirma.

Ainda segundo a especialista, em países como Alemanha, China e Estados Unidos, já foram evidenciados os impactos negativos da “infraestrutura cinza” (drenagem das águas das chuvas a partir de tubos e canais concretados) no manejo das águas urbanas e reconhecidos os benefícios de melhores práticas de manejo das águas na fonte, ou seja, no local onde ela cai.

O estudo realizado pela pesquisadora da USP mostra que há uma grande variedade de espécies de plantas documentadas pelo potencial de tratamento e/ou mitigação de poluentes. “No tratamento das águas destacam-se as plantas macrófitas ou aquáticas, em geral – flutuantes, emergentes ou submersas -, com sistema denso de raízes e capacidade para sobreviver em ambientes hostis”, revela.

Entre os exemplos destas espécies estão a taboa (Typha sp), o aguapé e o alface d’água (Eichornia crassipes).

E na prática, seria possível limpar um rio, como o Pinheiros ou o Tietê, na capital paulista, utilizando plantas? “Primeiramente, é necessária a implantação de projetos pilotos em escalas menores. As experiências internacionais têm demonstrado que a utilização de sistemas de infraestrutura verde pode contribuir muito para a qualidade não só das águas, mas do ambiente urbano como um todo, ao diminuir, por exemplo, a poluição sonora, do ar e e dos solos ”, destaca Maitê.

A pesquisadora menciona ainda que, no caso da recuperação do Rio Sena com jardins filtrantes, em Paris, o projeto se mostrou mais econômico do que se tivesse sido instalada uma estação de tratamento de efluentes.

E se usar plantas para limpar nossos rios é uma solução mais barata e eficiente, por que não a implantamos no Brasil?

“Temos o conhecimento sobre esta e tantas outras alternativas tecnológicas mais sustentáveis, econômicas e eficientes, que infelizmente, ainda não são aplicadas no país. Nossas universidades estão cheias de projetos e trabalhos que trazem uma série destas soluções inovadoras, mas na prática, o que se tem feito no Brasil? No que se trata da utilização de soluções de infraestrutura verde para a recuperação dos rios urbanos, acredito que a não utilização de tais soluções envolve questões de interesse político e econômico e não da falta de conhecimento. Além disso, as parcerias entre os órgãos públicos gestores das cidades e as universidades são fracas e há pouco investimento do poder público na implantação de projetos desenvolvidos dentro das academias”, lamenta a bióloga.

“Enquanto isso, no exterior, é possível observar um grande investimentos dos órgãos públicos em projetos de pesquisa e que têm resultado em novas diretrizes legais e técnicas contidas em excelentes manuais práticos. No Brasil, observamos um grande retrocesso do poder público no que se refere a conservação da natureza e dos recursos naturais”.

fonte: Conexão Planeta


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