Mulheres tomam ruas de Porto Alegre contra violência e por democracia e direitos, mas tropa de choque impede ato no TRF4

09/03/2018 08:19

A marcha de trabalhadoras, estudantes e ativistas de centrais sindicais e movimentos sociais ocupou as ruas de Porto Alegre na manhã desta quinta-feira, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, para protestar, denunciar e reivindicar democracia, manutenção de direitos e o fim da violência contra as mulheres.

 

A concentração teve início às 7h30 na Estação Rodoviária, saindo em seguida em caminhada pelas principais ruas do centro da Capital, realizando um ato em frente ao Palácio Piratini, mas foi impedida pela tropa de choque da Brigada Militar de se aproximar do prédio do Tribunal Regional Federal da 4ª Região  (TRF4) para protestar contra o golpe e defender o direito de Lula ser candidato nas eleições de outubro.

 

“Vampirão neoliberalista”

Em frente à Prefeitura, as manifestantes centraram as críticas às políticas – e à falta delas – do governo Marchezan Jr (PSDB), principalmente no que diz respeito ao parcelamento e ao arrocho de salários dos servidores, à ação social, à saúde e à educação.

“Um vampirão neoliberalista que está sucateando o pouco que tinha de políticas públicas voltadas às mulheres mais pobres, além de querer vender o patrimônio público como a Carris e o DMAE”, disparou a diretora do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Luciane Pereira da Silva.

Machismo mata

Várias mulheres protestaram contra o feminicídio. Elas se deitaram no chão da rua Sete de Setembro, enquanto outra pintava os contornos dos seus corpos no asfalto, representando àquelas mortas diariamente no país pelo simples fato de serem mulheres.

 

“A cada cinco minutos, uma mulher é morta no Brasil. A cada dois minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. A cada minuto, no Brasil, uma mulher sofre algum tipo de violência”, lembraram dirigentes sindicais mulheres do alto do caminhão de som à população que participava da atividade ou que apenas assistia ao protesto, marcando os quase mil feminicídios ocorridos no país em 2017, número que certamente é mais elevado considerando que os casos são subnotificados.

 

“Nem recatada e nem do lar, a mulherada está na rua pra lutar”

Durante todo o trajeto percorrido pela caminhada, palavras de ordem ecoaram contra as reformas da Previdência e Trabalhista do golpista Temer, o desemprego crescente junto às mulheres, a jornada tripla de trabalho e salários inferiores aos dos homens, além de críticas ao Judiciário em relação à condenação sem provas do ex-presidente Lula.

 

Ao chegarem à Praça da Matriz, as mulheres repudiaram a política de parcelamento dos salários dos servidores públicos por parte do governo de José Ivo Sartori (MDB), a inexistência de uma política de reajuste salarial, o desmonte dos programas de habitação popular, a extinção de fundações e a tentativa de entrega do patrimônio público, principalmente as empresas de energia (CEEE, CRM e Sulgás), à iniciativa privada.

 

O forte esquema de segurança montado pela Brigada Militar para “proteger” o Piratini também foi motivo de críticas, pois enquanto faltam efetivos para prevenir assaltos nas ruas e nos bairros, Sartori montou uma verdadeira operação de guerra para “enfrentar” uma manifestação pacífica de mulheres.

 

Juízes e desembargadores não sabem o que é não ter casa e não ter direitos

Em seguida, as manifestantes retomaram a caminhada e se dirigiram até o prédio do TRF-4, onde Lula foi condenado em segunda instância no último dia 24 de janeiro, mesmo sem nunca ter sido dono do triplex do Guarujá (SP). A intenção era protestar contra a perseguição jurídica e midiática ao ex-presidente e denunciar a criminalização dos movimentos sociais e o auxílio-moradia indecente dos juízes federais.

Porém, ao se aproximarem, encontraram uma verdadeira muralha de soldados da tropa de choque do BOE (Batalhão de Operações Especiais), da Brigada Militar, munidos de escudos, cassetetes e armas não letais como sprays de pimenta e bombas de gás, impedindo a continuidade da marcha até a frente do TRF4.

As manifestantes fizeram um ato de encerramento e deixaram uma lona preta fixada junto à cerca, para que os juízes e desembargadores pudessem “sentir” o que é não ter casa e não ter direitos.

“Vocês são mimados e não têm noção dos privilégios que vocês têm e que são bancados pelo povo. Vocês, que têm empregada doméstica desde que saíram dos cueiros, não têm a mínima ideia do que é ficar embaixo de uma lona preta”, apontou uma manifestante do MST que se revezava ao microfone em cima do caminhão de som.

 

Mulheres querem o direito de Lula ser candidato

Mesmo sem chegar até o TRF-4, a avaliação das dirigentes da CUT-RS foi positiva.

Para a secretária de Mulheres da CUT-RS, Isis Marques, a marcha conseguiu, a exemplo do ano passado, “organizadamente colocar na rua as nossas pautas, nos mostramos como agentes políticas da sociedade e ressaltamos que as nossas lutas são estruturantes. O Dia Internacional da Mulher não é para

comemorar, mas sim um dia de reflexão e luta”.

 

“Mais uma vez as trabalhadoras do campo e da cidade se uniram em defesa da democracia, contra a violência praticada às mulheres que vem aumentando cada vez mais, e defenderam os nossos direitos que esse governo golpista está querendo retirar. E queremos democracia de verdade, um tratamento igual para todos os processos por parte do Judiciário e não o que está sendo feito, como essa perseguição política para impedir que o ex-presidente Lula concorra nas eleições desse ano”, destacou Maria Helena de Oliveira, secretária de Formação da CUT-RS.

 

“Nesse momento de resistência podemos dizer que sim, somos vitoriosas, mas isso não significa que vamos sair das ruas. Vamos continuar enquanto a ameaça da reforma da Previdência permanecer, enquanto os efeitos da reforma Trabalhista estiverem aí e, sobretudo, a continuidade do golpe que busca impedir Lula de concorrer”, avaliou a secretária de Administração e Finanças da CUT-RS, Vitalina Gonçalves.

 

E para a secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Angélica do Nascimento, o ato uniu as mulheres, tanto camponeses como urbanas, negras, brancas e lésbicas em torno de um único objetivo, que é o de barrar os desmontes que os governos de direita estão levando a cabo, tanto em nível federal quanto estadual e municipal. ”E nós temos o dever de não deixar a população esquecer os traidores que estão implementando e votando pela retirada das conquistas da classe trabalhadora e das políticas públicas”,  frisou.

Fonte: CUT-RS, edição e foto 6 CUT Pode Mais