Poucas vezes a frase inicial de um texto jornalístico foi tão premonitória. “Foi como um fio d’água que se transforma em um rio caudaloso e se espraia pelas várzeas, regando plantas aparentemente adormecidas”, dizia a abertura da matéria sobre a Carta às brasileiras e aos brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, documento surgido na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), já em circulação, mas que vai ser lançado oficialmente no próximo dia 11 de agosto, data tradicional de comemoração do Dia do Advogado. No Jornal da USP
Fachada da Faculdade de Direito da USP | Foto: FDUSP
Quando a matéria foi publicada, na noite da última segunda-feira (25), a Carta tinha 3 mil assinaturas de apoio de juristas, empresários, artistas e de demais representantes da sociedade civil. Nesta sexta-feira (29), graças à imensa repercussão no noticiário e na sociedade civil, a Carta já contabiliza mais de 460 mil assinaturas — número que não para de subir — e continua amplamente noticiada pela mídia.
Na última terça-feira (26), o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, anunciou o apoio da entidade à inciativa, sendo seguida pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
As 2 entidades estão escrevendo carta própria, que vai ser lida também na Faculdade de Direito da USP na mesma cerimônia que vai ser realizada nas tradicionais Arcadas no próximo dia 11. As entidades patronais também aderiram aos manifestos.
“Acho que democracia brasileira está em risco”, disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP. Para ele, a adesão à Carta “é uma inflexão, uma manifestação muito vigorosa; é um aviso: a sociedade civil está muito alerta”.
A iniciativa da Faculdade de Direito e das outras entidades está sendo contestada pelo governo federal. O presidente Bolsonaro chamou o documento de “cartinha”, o ministro chefe da Casa Civil, senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), ousou dizer que a Febraban aderiu porque a criação do sistema de transferência monetária PIX fez os bancos perderem R$ 40 bilhões em faturamento.
Claro, os hackers simpáticos ao governo entraram em campo, tentando interferir na coleta de assinaturas que está disponível no site Estado de Direito Sempre! Sobre as tentativas de ataques sofridas pelo site, está escrito nota oficial emitida pela Faculdade de Direito:
A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo ressalta que todas as tentativas de ataques hackers à Carta às brasileiras e aos brasileiros — Estado Democrático de Direito Sempre estão sendo monitoradas pela equipe técnica da USP, bem como pela equipe técnica responsável pela coleta de assinaturas.
Foram estabelecidas diversas camadas de proteção nesses portais e monitoramento constante, identificando quem está promovendo essas tentativas, que serão levadas às autoridades competentes.
Até o período da manhã desta quinta-feira (28), foram realizados mais de 2.400 ataques. Todos frustrados.
Dessa forma, combatendo essas tentativas de invasão, a Faculdade de Direito da USP seguirá no recolhimento de novas adesões e no caminho da Defesa do Estado Democrático de Direito Sempre.
Segundo Campilongo, apenas na última terça-feira (26) o site da faculdade já tinha recebido 6 milhões de visitas. “Não estamos dando conta da demanda. O Brasil não aceita diminuições de sua democracia e de suas eleições”, disse ele.
