O atual livro-coqueluche de economia, “Como a China escapou da terapia de choque”, de Isabella Weber, lançado pela Boitempo Editorial – embora não cite o país, explica porque o Brasil jogou fora a oportunidade única de ter se tornado uma das grandes economias mundiais.
A exemplo da China e da União Soviética, desde os anos 40 o desenvolvimento brasileiro fez-se em torno de grandes estatais, que garantiam o preço nos grandes insumos estratégicos: energia, telecomunicações, financiamento habitacional.
A mudança nos paradigmas tecnológicos globais mostrou a necessidade de aprimorar o modelo. A ex-URSS aplicou a “terapia de choque”, indicada pelo chamado Consenso de Washington; a China optou por uma política de transição, liberando setores não essenciais, mas mantendo o controle sobre produção e preço de setores essenciais.
No final dos anos 80, Júlio Mourão, um grande – e ignorado – pensador, economista do BNDES, da escola criativa de Ignácio Rangel, propôs uma política de transição – tema que trato em meu livro “Os Cabeças de Planilha”.
Consistia em uma abertura gradual, que permitisse às empresas brasileiras gradativamente se inserir no mercado mundial, nas cadeias globais de produção. Seria um processo, ao mesmo tempo, de aprendizado – como fazer produtos globalmente competitivos – e de novas parcerias com fornecedores.
Apesar de meio destrambelhado, a abertura econômica de Fernando Collor respeitou alguns dos princípios. Manteve o controle sobre setores estratégicos, montou a histórica Câmara da Indústria Automobilística, juntando todos os atores – das montadoras e fornecedores às centrais sindicais.
Coube a Fernando Henrique Cardoso ser o nosso Mikhail Sergeevitch Gorbatchov, o dirigente que destruiu a economia russa, transformando uma das maiores potências econômicas em um mero coadjuvante de segunda linha.
Como descreve Isabella Weber, em que consistia a “terapia de choque”:
1) liberalização de todos os preços em um único big bang;
2) privatização;
3) liberalização do comércio; e
4) estabilização, na forma de políticas fiscais e monetárias rígidas. As quatro medidas da terapia de choque, implementadas simultaneamente, deveriam, em teoria, formar um pacote abrangente.
“‘Em aparência, tratava-se de um amplo pacote de políticas que seriam implementadas de uma só tacada, para causar um choque nas economias planejadas, transformando-as de uma só vez em economias de mercado”. A China acordou a tempo e substituiu o choque por um processo gradativo de liberalização, sem abrir mão do controle dos preços essenciais.
Era impressionante o grau de estupidez e de desconhecimento da economia real, por parte dos economistas do Real. Lembro-me do pânico deles com a demora em deflagrar o processo de importações, apertando o câmbio e os juros, criando a âncora verde que quebrou milhares de empresas pelo país.
Na época, escrevi um artigo na Folha mostrando que havia uma defasagem entre abertura comercial e entrada dos produtos no país. Era o período em que os importadores sondariam o mercado, selecionariam produtos e fornecedores. Na ocasião, recebi um telefonema de José Serra, perguntando se eu havia lido os últimos trabalhos de Paul Krugman. Nos anos seguintes, Krugman ganhou enorme proeminência e venceu o Prêmio Nobel de Economia em 2008 por sua análise de comércio internacional e geografia econômica. Na ocasião, tinha a menor ideia sobre quem era ele. Expliquei que cheguei às mesmas conclusões simplesmente indo a Uberlândia, para uma palestra em um grande atacadista, e perguntei a ele sobre o ritmo das importações. Simples assim.
Não era a primeira tentativa da “terapia de choque”. Em 1980, Antonio Delfim Neto aplicou seu choque, promovendo uma maxidesvalorização cambial seguido de um tabelamento total da correção monetária e do câmbio. O único efeito positivo do pacote foi ter abreviado o fim do regime militar.
Nos anos seguintes, a mesma “terapia de choque” foi repetida, continuando o processo de desmonte da economia. No primeiro semestre de 1995, Pérsio Arida promoveu o maior aumento da taxa básica de juros – sempre dentro da lógica da terapia de choque -, sem ter a menor ideia sobre o desaquecimento da economia, que já vinha ocorrendo por conta da âncora cambial.,
No final de 1998, FHC implementou seu trágico modelo de privatização do setor elétrico, baseando-se no modelo inglês, cuja matriz energética era totalmente distinta da nossa, e a privatização do setor de telecomunicações, jogando fora estudos e pesquisas que poderiam ter tornado o país um player global.
Em 1999, com o fim da banda cambial, outra terapia de choque casando maxidesvalorização (inevitável) com fortíssimo ajuste fiscal e monetário, ajudando um pouco mais na destruição da economia brasileira.
A então Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, conseguiu consertar parte do erro, montando um modelo gradual, de privatização de alguns setores, mas mantendo o controle estatal sobre o preço básico da energia.
Em 2008, com a crise internacional, o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aumentou os juros e houve intensa defesa de um novo ajuste fiscal, para uma economia que se esvaía em sangue. No seu único momento de estadista econômico, Lula cedeu às pressões do Senhor Crise e comandou uma política econômica pragmática, que tornou o Brasil sucesso econômico mundial.
Mas a cópia cega da terapia de choque prosseguiu em 2015, com o trágico pacote Joaquim Levy, juntando liberação total de preços, reajuste tarifário, choque cambial e monetário. O único efeito desse pacote foi abreviar a transição democrática e abrir espaço político para o golpe do impeachment.
Agora, estamos vivendo um momento de grandes dilemas. Mantida a privatização da Eletrobras, a liberação da energia contratada, haverá um enorme choque de preços. Se até o próximo ano, o governo não conseguir flexibilizar o arcabouço, será um outro choque fiscal. E se não derrubar a Selic para a faixa de um dígito, a quebradeira será mais ampla e generalizada.
Mesmo com a informação de que o Banco Central de Roberto Campos Neto produziu estudos defendendo a imunização de rebanho, e análises estatísticas eleitorais para a campanha de Bolsonaro, e também o fato de que não manja bulhufas sobre política monetária, persiste em parte da opinião pública midiática a visão de que toma “decisões técnicas”.
Já se dizia que o preço da liberdade é a eterna vigilância. No Brasil, o preço do subdesenvolvimento é a eterna ignorância.
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