“Como falta prova? Tá cheio de prova contra o Lula!”

26/01/2018 16:13

“Como falta prova? Tá cheio de prova contra o Lula!”

 
Três pilhas de provas contra Lula

Não aguento mais esse argumento. Talvez “argumento” seja forte; esse atraso cognitivo oportunista.

Jornalistas, juízes e isentões da timeline fazem corinho, cada um com sua linguagem (manchetes definitivas, sentenças pomposas, memes do MBL). Questionar o julgamento de Lula sobre a história do triplex seria ignorar “uma pilha de provas”, e só poderia ser fruto de má-fé, culto a personalidade, essas idiotices todas.

Segura, então, essa lista de provas aí.

Realmente é uma lista longa, com vários itens, que prova sim uma coisa: Lula PROVAVELMENTE FICARIA com o imóvel. TALVEZ ATÉ SEM PAGAR, DIZEM.

(É isso mesmo: depois de anos e UMA NOTA gasta nessa investigação — honorários de todos os envolvidos, operações da PF, buscas e apreensões, papelada, fórum etc; tudo pago com dinheiro público, numa soma que com certeza já passou o valor do apartamento e da reforma -, o melhor que se conseguiu foi um “provavelmente ficaria”.)

~~~ PROBLEMA 1 ~~~
Mesmo que pareça provável, e eu até acredito nisso (você também, mas foda-se nossa opinião), você precisa SUPOR que ele ia receber o apartamento sem pagar, NO FUTURO. Mas beleza, em frente.

 
Tem precedentes

~~~ PROBLEMA 2, QUE ME PARECE BEM PIOR ~~~
Imagina um processo de uma pessoa que foi pega dentro de um supermercado e está sendo acusada de roubar um iogurte. Aí você pergunta, “ok, cadê as provas do crime?”

Aí Moro e o MPF te passam um monte de fotos da pessoa olhando o iogurte, segurando o iogurte, depoimento de um funcionário do supermercado que não viu ela contar o dinheiro na frente do iogurte, um zelador dizendo que “todo mundo sabia” que aquele iogurte tava reservado pra ela, mensagens de celular de amigos da pessoa dizendo que ela gosta dessa marca de iogurte… e é basicamente isso.

 
Elemento probatório n. 1

Tem que ter provas DO CRIME, PORRA!

Qual é o crime, no caso aqui? Ter/querer/mostrar intenção de comprar um apartamento não é crime, obviamente. Ficar com um apartamento sem pagar, até é — mas contra a OAS, caso ela quisesse dar queixa; a empresa inclusive TEM O DIREITO de dar um apartamento pra quem ela quiser, se quiser.

Crime seria DAR O APARTAMENTO A UM FUNCIONÁRIO PÚBLICO EM TROCA DE FAVORES QUE ESSE FUNCIONÁRIO TERIA PODER DE GARANTIR.

Essa é a narrativa que o Moro e o MPF enfiaram na cabeça e tudo que aparece de evidência é marretado a fórceps pra caber dentro dela (depois galera assiste “Making a Murder” e fica indignada, “como é possível?”)

Você pode empilhar um milhão de provas de UMA PARTE da sua narrativa, mas isso não quer dizer que ela TODA é verdadeira, principalmente se você não prova O CRIME PRINCIPAL: FAVORECIMENTO DA OAS POR PARTE DO LULA

E é DESSE CRIME QUE FALTAM PROVAS, CARAGLIO

É tão difícil de entender???

E quais são as ÚNICAS provas que se tem desse crime? O DEPOIMENTO DA PORRA DO LÉO PINHEIRO.

 
Tantas lembranças

Agora, vamos ver que curiosa a timeline desse depoimento do Léo Pinheiro:

> Em junho de 2016, as negociações de delação dele “travaram” porque o depoimento inocentava o Lula. (Folha)

> Em setembro de 2016, Léo Pinheiro é PRESO novamente (G1)

> Em novembro de 2016, o TRF-4 (esse mesmo) lasca 23 ANOS DE PRISÃO na lomba do Léo Pinheiro (Estadão)

> Em abril de 2017, Léo Pinheiro MUDA O DEPOIMENTO e passa a acusar Lula de “receber o apartamento” nesse esquema de “desconto no crédito das propinas”. Provas além da palavra de um cara com uma faca de 23 anos de regime fechado no pescoço? “Não tenho, Lula mandou destruir” (Valor)

> Em julho de 2017, Moro já tinha reduzido a pena dele de 23 (VINTE E TRÊS) pra 5 (CINCO) ANOS — sentença bem dosada é outra coisa, né — , mas Léo Pinheiro AINDA ESTAVA PROMETENDO APRESENTAR PROVAS DO CRIME (O Globo)

> Em novembro de 2017, MESMO SEM APRESENTAR PROVA NENHUMA DO CRIME, o TRF-4 confirma a redução da pena de Léo Pinheiro (G1)

> E em janeiro de 2018, o mesmo TRF-4 REDUZ DE NOVO a pena do Léo Pinheiro pra TRÊS ANOS DE SEMIABERTO (Valor)

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Enfim, tudo provado, só não vê quem não quer. Um julgamento normal.