Claudir Nespolo se licencia da presidência da CUT-RS para concorrer a deputado federal

11/07/2018 14:20

Claudir na Redenção

O metalúrgico Claudir Nespolo se licenciou nesta quarta-feira (6) da presidência da CUT-RS para ser pré-candidato a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de outubro próximo. A licença ocorre em cumprimento à legislação eleitoral e vai até o dia 7 de outubro, quando aconteceo primeiro turno do pleito.

Quem assumiu como presidente em exercício é o funcionário público Marizar Mansilha de Melo, atual vice-presidente da CUT-RS e também diretor do Sindicato dos Servidores Federais do Rio Grande do Sul (Sindiserf-RS) e da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

A vice-presidenta interina, durante esse período de quatro meses, será a bancária Ana Maria Betim Furquim, diretora da CUT-RS e dirigente do Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana, da Fetrafi-RS e da Contraf-CUT.

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Cleonice Back também se licencia

Também se licenciou a secretária de Políticas Sociais da CUT-RS, agricultora familiar Cleonice Fabiane Back , também diretora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS). Ela é também pré-candidata nas eleições de outubro pelo PT.

A Secretaria de Políticas Sociais será exercida pela professora Angelita Fernanda Teixeira Lucas, diretora da CUT-RS e também dirigente do Sindicato dos Professores Municipais de São Leopoldo (CEPROL).

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Leia abaixo a entrevista concedida por Claudir Nespolo!

O que te levou a tomar essa decisão de se apresentar como pré-candidato a deputado federal nas próximas eleições?

Claudir - No último período, o Congresso Nacional votou – e aprovou – muitas propostas, muitas pautas contra a classe trabalhadora e o povo brasileiro. A grande maioria dos deputados federais ou são empresários ou representam os interesses dos empresários.

Para termos uma ideia mais clara, entre empresários e latifundiários, as cadeiras da Câmara Federal hoje estão ocupadas por mais de 50% de representantes desses setores, apesar deles serem pouco mais de 4% do eleitorado. Já os trabalhadores, que compõem a maioria esmagadora da população, contam com uma representação que não chega a 20%.

Na votação do impeachment da presidenta Dilma, sem nenhum crime de responsabilidade, houve 367 votos favoráveis e 137 contrários. Eram necessários 172 votos para impedir o começo do golpe. Do Rio Grande do Sul, 22 deputados votaram a favor, apenas oito contra e uma absteção.

Cabe a nós, homens e mulheres, que estamos na linha de frente, na trincheira da resistência em defesa dos direitos e das conquistas da classe trabalhadora, assumirmos esse desafio extraordinário de buscar equilibrar esse jogo, que hoje está desigual, que apresenta um lado mais fragilizado, justamente o lado que menos tem poder aquisitivo, menos poder de barganha e que tem pago o preço da crise econômica.

A reforma trabalhista retirou inúmeros direitos e conquistas da classe trabalhadora, a ponto de transformar a CLT num verdadeiro código de defesa das empresas. Como fazer para revogar a reforma?

Claudir - Sabemos que somente a mobilização nas ruas não é suficiente para assegurar direitos. É o Congresso Nacional que solda e dessolda direitos, que cria ou extingue direitos. Prova disso é que, apesar da grande greve geral que fizemos em 28 de abril do ano passado, os deputados federais e senadores aprovaram a reforma trabalhista, cujo centro foi a criação de empregos precários, salários flexíveis e perda de direitos que até então estavam garantidos na CLT e que agora tornaram o valor do trabalho muito mais barato para quem contrata.

Ou seja, mais uma vez perderam os trabalhadores e ganharam os empresários. E, neste sentido, a luta que deve ser feita na Câmara Federal será para recuperar esses direitos. E o faremos juntamente com o senador Paulo Paim, que já elaborou e apresentou o Estatuto do Trabalho, instrumento pelo qual se organiza aquilo que chamamos de postos de trabalho qualificados, que recupera o conceito de trabalho decente, digno.

Essa será a agenda principal no sentido de combater as desigualdades no mundo do trabalho e voltarmos a ter empregos de qualidade para aqueles que verdadeiramente produzem a riqueza do nosso país. É importante que as pessoas tenham claro que em nenhum lugar do mundo – e isso é um desafio que lanço para as federações empresariais, que mostrem onde ocorreu – houve aumento do emprego com a retirada de direitos e tornando o emprego precarizado. O que há, isto sim, é um aumento do que se chama de exercito de reserva de mão de obra e aumento do lucro privado.

Uma pauta que poderá retornar ao Congresso será a reforma da Previdência. Como barrar mais esse ataque ao povo brasileiro?

Claudir - Esse é um jogo pesadíssimo que tem a ver com a ganância do setor financeiro, que esteve no centro do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e está no centro dessas reformas. No caso da Previdência, essa ganância pelo lucro fácil busca empurrar os trabalhadores para os planos de previdência privados e aposentadoria complementar geridos pelos bancos, alongando os prazos e idades para se aposentar pelo INSS, o que torna se aposentar pela previdência pública algo praticamente impossível aos trabalhadores e às trabalhadoras.

Esse será o grande debate da eleição desse ano. E os trabalhadores terão de decidir se irão votar em quem já tentou tirar o seu direito à aposentadoria ou apoiar uma plataforma política que quer manter a previdência pública, reforçá-la, aperfeiçoá-la no sentido de ela cumprir a sua função social de proteger a população e não excluí-la completamente do processo em favor dos bancos que, apesar da crise, é praticamente o único setor da economia que não foi afetado e que continua lucrando bilhões de reais a cada trimestre.

Que medidas tu avalias como urgentes que deveriam ser tomadas para combater o desemprego e retomar o crescimento econômico?

Claudir – O tema fundante é enfrentar a questão da reforma tributária, mas não essa visão da Rede Globo, da grande mídia em geral e das federações empresariais como um todo, que é a da simples redução de impostos. O debate a ser enfrentado, que deve ser colocado às claras para que a população realmente entenda, é que os impostos devem ser cobrados de forma justa.

Para termos uma idéia, do quão injusto é hoje a cobrança de impostos no Brasil, basta ver que os proprietários de jatinhos, iates e helicópteros, por exemplo, são isentos do pagamento de IPVA. Somente em 2016, por conta deste “direito”, deixou-se de arrecadar algo perto de R$ 3 bilhões. Ou seja, enquanto os ricos e muito ricos não pagam, o trabalhador assalariado é obrigado a pagar imposto sobre o carro usado que comprou com muito esforço.

Outro exemplo do que classifico como um verdadeiro crime contra o povo brasileiro é que aqueles que ganham por mês a partir de R$ 240 mil começam a ter imposto reduzido, chegando a pagar 9% sobre uma renda de R$ 340 mil mensais. Uma análise das 27 milhões de declarações de imposto de renda de 2016 mostrou que cerca de R$ 750 bilhões da renda dos mais ricos ficaram isentas de qualquer imposto porque foram declaradas como lucros e dividendos, que são isentos de qualquer recolhimento graças a uma lei promulgada em 1997 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O trabalhador precisa ter claro, se acha justo ou não que ele pague exatamente o mesmo imposto sobre o sapato, o pão ou a gasolina, que é pago pelos milionários desse país, mesmo que entre esses dois lados exista um fosse social gigantesco.

Se houver simplesmente redução de impostos, quem sairá ganhando?

Claudir - Esse discurso de reduzir ou acabar com impostos é um pleito das elites brasileiras que não dependem do estado, pois podem bancar suas necessidades. Vamos pegar mais um exemplo, desta vez de um nome bem conhecido dos brasileiros. O Joesley Batista, dono da JBS, recebeu cerca de R$ 1,7 milhão durante o ano de 2016 como pró-labore (salário) e que foi tributado corretamente em 27%. Porém, também recebeu algo em torno de R$ 103 milhões a título de lucros e dividendos, mas não pagou nenhum centavo de imposto, quando o dinheiro foi para a sua conta.

Fora isso, tem ainda diversos setores da economia que recebem gordos incentivos, através da renúncia fiscal do governo e quem acaba pagando essa conta é a população, que perde direitos em nome de uma suposta adequação do país à modernidade para sair da crise.

Devemos, isso sim, é melhorar, qualificar o ingresso de receitas junto aos cofres públicos e, claro, devolver cada centavo disso em serviços de qualidade à população.

Uma verdadeira justiça fiscal se faz com que os que estão no andar de cima da pirâmide social paguem mais do que aqueles que estão embaixo. Ou, no mínimo, que paguem corretamente. É assim em qualquer país do mundo, que se julgue democrático e que defende uma política fiscal justa. No Brasil, hoje, ela é excludente: exclui o rico do pagamento correto e exclui o povo dos benefícios sociais.

E como deveria ser o combate ao desemprego?

Claudir - O desemprego que hoje vivenciamos é a maior chaga, a marca resultante de um processo que juntou o golpe de 2016 e a própria reforma trabalhista. Em ambos os casos, prometeram ao povo que, concluídos esses tais processos, iria se retomar o crescimento econômico e seriam criados imediatamente cerca de 6 milhões de empregos.

Porém, o que vimos, foi o menor número de empregos gerados com carteira assinada e o crescimento do emprego informal, o famoso bico, agora institucionalizado como trabalho intermitente. Hoje temos cerca de 27 milhões de homens e mulheres à procura de uma colocação no mercado de trabalho.

A geração de emprego é resultante da capacidade do estado induzir o investimento, operando como indutor da economia. E é nesta perspectiva que iremos trabalhar, defendendo que o estado tem como harmonizar, modular aquilo que chamamos de ondas ou fases dos diferentes setores e agentes econômicos, apoiando ou não com políticas diferenciadas este ou aquele segmento.

Na medida em que quem está à frente do governo, que o tomou a partir de um golpe, toca o Brasil simplesmente como porta-voz dos setores do mercado, ele acaba não cumprindo esse papel de fomentador de riqueza, de criação de empregos e de distribuição de renda.

São esses modelos que estarão em disputa nas eleições de outubro. E será entre esses dois modelos que a classe trabalhadora deverá fazer a sua escolha.

A democracia foi agredida com o golpe de 2016, que só trouxe retrocessos. É possível virar essa página da história?

Claudir – Olha: o golpe parlamentar, jurídico e midiático de 2016 derrubou a presidenta Dilma, eleita com mais de 54 milhões de votos. Sem crime de responsabilidade. Os golpistas implantaram uma agenda de retirada de direitos dos trabalhadores e de entrega do pré-sal e da soberania nacional.

Agora prenderam o Lula sem crime e sem provas. Uma tremenda injustiça! Lula é inocente. Eles querem impedi-lo de ser candidato a presidente porque lidera todas as pesquisas. Para virar a página do golpe, é preciso ampliar a luta pela libertação do melhor presidente na história do Brasil. Lula livre!

 

 

Fonte: CUT-RS