25/11/2022 17:30
CARTA ABERTA AO SECRETÁRIO GERAL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)
Porto Príncipe, 22 de setembro de 2022
Sr. Antonio Guterres
Senhor Secretário Geral,
O povo haitiano em luta ficou surpreso e perplexo ao saber que o senhor difundiu no Canal
France 24 informação falsa que tende a confundir, criminalizar e desacreditar sua luta por um
Haiti soberano, justo e habitável.
Contrariamente às suas afirmações, os protestos populares são parte de uma luta por um Haiti
livre da asfixiante ingerência estrangeira, da gangsterização, da miséria extrema provocada
intencionalmente por um governo antinacional, ilegítimo e criminoso, estabelecido pelo “Core
Group” do qual faz parte a ONU.
Este governo títere, que opera sob as ordens do Fundo Monetário Internacional (FMI), acaba
de apunhalar o povo com a decisão de aumentar em mais de cem por cento (128%) o preço
dos derivados do petróleo, que já sofreu em menos de um ano, um aumento vertiginoso que o
duplicou e em alguns casos, o triplicou, assim como os preços dos produtos de primeira
necessidade. Note-se que em julho de 2022, segundo dados do Banco de la República de Haití
(BRH), a taxa de inflação já alcançava o índice de 30.5%. Agora, já se anuncia que chegará em
novembro a mais de 50%, se mantido o aumento de preço dos derivados de petróleo.
Aceitar este novo aumento criminoso dos derivados de petróleo equivale a aprovar o
incremento do custo de vida, aumentando assim o calvário do sofrido povo haitiano. Esta nova
decisão tomada em detrimento dos interesses do povo há despertado sua ira e também há
recrudescido os protestos e ações de rua, cujo objetivo é a recuperação de nossa soberania, a
apropriação do destino do Haiti para as mãos das haitianas/haitianos e a instauração, por
parte dos haitianos, de um governo legítimo capaz de defender os interesses do povo e
enfrentar os diversos desafios do momento.
Entre outras questões, o que motiva este movimento de protesto geral que inflama a todo o
país e que leva à sublevação uma multidão de cidadãos indignados às ruas são as ações
inaceitáveis de um poder criminoso e corrupto apoiado pelas potências imperialistas, o “Core
Group”e a ONU em particular. Então, senhor secretário geral, é muito provável que o hajam
informado mal.
Sem dúvida, esta é a razão do senhor ter declarado com muita rapidez em um canal francés
que o que está se passando atualmente no Haiti é uma questão de gangues, que invadiram o
país e que este movimento estaria infiltrado por políticos, homens e mulheres de negócios. Tal
informação há distorcido completamente a realidade e há dado uma versão exatamente
oposta do que está sucedendo. O certo é que as gangues no Haiti, que são apêndices políticos
do “Core Group”, atual poder de fato, operam em silêncio e têm tratado de infiltrar-se nos
movimentos de protestos populares sob às ordens de seus chefes com o objetivo de confundi-
lo e desacreditá-lo e assim proporcionar à comunidade internacional, e ao senhor em
particular, un pretexto para criminalizar a luta do povo haitiano.
Contrariamente ao que disse a Sra. Lalime - a sua atual representante especial – as gangues
são quem, com autorização e por encargo, infiltram-se nas mobilizações populares para
semear a confusão. Mas, felizmente, muitos observadores já haviam entendido o jogo e
orientaram o povo a ser cuidadoso e a tomar todas as precauções necessárias para evitar esta
nociva infiltração e seus efeitos perversos.
Senhor Secretário Geral, sua declaração infundada nos desafia e nos leva a produzir um
conjunto de perguntas, a saber:
Sua representante especial no Haití, a Sra. Helen M. Lalime, encarregada de lhe fornecer dados
não o informou sobre o que realmente está passando no Haiti?
O Senhor tem clara consciência do pernicioso papel que há jogado e segue jogando a ONU no
processo criminal de gangsterização do Haiti, ao colocar em questão o respeito aos direitos
fundamentais do povo haitiano?
Ademais, há um fato gravísimo reconhecido por diversas organizações haitianas, de que o
atual representante da Oficina Integrada das Nações Unidas no Haiti (BINUH) é considerado o
instigador de uma federação de guangues armadas com práticas terroristas em todo o país.
Para convencer-se deste fato, basta remeter-se ao seu informe [2] de 25 de setembre de 2020.
Sobre este particular perguntamos se o senhor há calculado o que representa, em matéria de
moral pública, a implicação de seu representante especial no escândalo da federação de
gangues, cuja finalidade e alimentar e reforçar a insegurança até o caos?
O senhor também precisou que “a nível da ONU estaria em estudo um plano para fortalecer a
Polícia Nacional do Haiti (PNH) e enviar uma força militar robusta para combater as gangues”.
Senhor Secretário Geral,
As Nações Unidas têm aumentado as missões no Haiti desde 1993 (UNMIH). Especificamente,
deveria recordar o inegável fracasso de várias missões da ONU no Haiti durante os últimos
dezoito anos (2004-2022). Longe de ajudar a melhorar a situação, todas elas contribuiram para
piorá-la. O que pedimos não é o envio de uma missão militar, mas sim a criação de uma
comissão de investigação independente encarregada de avaliar os resultados concretos das
diversas missões da ONU enviadas ao país, em particular a última, a BINUH, dirigida por sua
representante dotada de um cinismo incomparável, Helen M. Lalime.
Ademais, por que considerar o envio de uma força militar para frustrar a ação criminosa das
gangues quando sabemos que estas quadrilhas operam sob o manto de um poder de fato, o
Grupo Central e seu representante especial?
Cabe ainda sublinhar, a lógica infernal do FMI, que apoia a decisão criminosa de aumentar o
preço dos derivados de petróleo e afirma que “o Estado haitiano não deve subsidiar os
derivados do petróleo, mas preferencialmente subsidiar as famílias”. É fundamental recordar
que sempre foi em benefício das famílias que estes produtos foram subsidiados e quando o
Estado, por ordem do FMI, se vê obrigado a não subsidiá-los, lamentavelmente é em
detrimento dos interesses dessas mesmas famílias a que está se referindo. As famílias que
contam com um valor fixo mensal deverão enfrentar, em razão desta irresponsável decisão,
uma situação muito complicada e de alta precariedade.
Nessas condições, como esperar que as famílias fiquem de braços cruzados?
As famílias e as massas neste caso necessitam das gangues apoiadas pela ONU para que as
massacrem, as sequestrem e as joguem nas ruas?
Para concluir, Sr. Secretário Geral, asseguramos que o povo desta vez só deixará de sair às
ruas quando se instaurar um governo de transição eleito pelos haitianos com um programa
que vá em direção à satisfação de suas legítimas reivindicações. Isso passa necessariamente
pela renúncia de Ariel Henry, a quem o senhor e os demais atores da comunidade
internacional anti haitiana se propõem a apoiar à custa da desestabilização de nosso país.
As organizações abaixo assinadas, apelamos para que reconsidere sua atual política, para que
respeite a luta do povo haitiano e repare os enormes agravos cometidos com suas ações e
palavras ofensivas. Também estamos convencidos, que chegou o momento para que as
relações entre Haiti e as Nações Unidas se definam sobre novas bases, tendo em vista os
resultados negativos e desastrosos das missões da ONU no Haiti desde 1990.
Pelas organizações:
Inisyativ Patriyòt Maryen (IPAM) / Hugues Célestin
Alternative Socialiste (ASO) / Jean Hénold Buteau
Latibonit kanpe pou Ayiti (LAKAY) / Rigaud Velumat
Mouvman Revolisyone pou Liberasyon Mas yo (MORELIM) / Nelio Petit-Homme
Mouvement de Liberté, d’Egalité des Haïtiens pour la Fraternité (MOLEGHAF) / David
Oxygène
TANBOU PALE / Alcereste Schneider
Nou se Dorval / Iswick Théophin
Union Nationale des Normaliens-nes d’Haïti (UNNOH) / Peguy Noel
Kolektif Solidarite, Idantite ak Libète (KASIL) / Rudy Prudent
Centrale Nationale des Ouvriers Haïtiens (CNOHA) / Dominique St Eloi
Antèn Ouvriye Ayiti / Lominy Edmond
Action Sociale pour le Progrès et le Changement de la Jeunesse Haïtienne / Luckner Chéry
Alternative Citoyenne Nippes (AC-NIP) / Moise Thomas
Rèl peyizan / Pierre Jean Riker
Konbit Ayisyen pou Lojman Altènatif (KAYLA) / Francia Pierrette
Obsèvatwa pou Egalite (OPE) / Jean Claudy Aristil
Union Syndicale des Transporteurs Haïtiens / Venès Junior Many
Asosyasyon Viktim Masak Leta nan Katye Popilè yo (AVIMEKP) / Nevelson Jean-Baptiste
Initiative des Citoyens Organisés de Petit-Goâve (ICOP) / José Fabiola Josera
Respect des Ouvriers Haïtiens de la Manufacture (ROHM) / Jacques Minephar Juste
Collectif des Planteurs Responsables pour l’avancement d’Haïti (COPRAH) / Roberto Annelus
Rezo Òganizasyon Nòdwès / Kerby Joseph
Platfòm Rezistans Peyizan Latibonit (PREPLA) / Nicolas Pierre-Louis
Plateforme des Nationalistes Révoltés et Engagés (PLANARE) / Victor Charidieu
COMIPOL / Ernso Ertilus
Mouvman Antant Popilè (MAP) / Patrice Laporte
Vwa Fanm Angaje Nò (VFAN) / Chantal Alizé
Platfòm Oganizasyon pou Ideyal Bwawon Tonè / Hugues-Capè Mondésir
MOSSO/AVIMB / Gary Lindor
Kowòt Patriyotik / Francisco Alcide
Union pour le Développement Social et Communautaire ( UDESC-HAITI) / Eldin Jean
Cercle Grégory Saint-Hilaire / Cilien Luxenat
Armand Joseph Jules / Citoyen engagé
Cri Castro / Wismanie Perrin
Armand Joseph Jules, Citoyen engagé
Fòs Dèlma 32 / Clerveaux Fritznel
Inisyativ Sitwayen Ayisyen / Gustave Augustin
Association des Femmes Engagées et Solidaires pour l’Avancement et le Progrès (AFESAP) /
Mona Brutus
Fanm Vanyan pou sove Souverennte Ayiti / Francia Felix
Sèk Janil / Bedouby Nobert
MSTH-ROZO / Mario Maisonneuve
Kolektif Atis Angaje (KATAN) / Kébert Bastien
Konbit Òganizasyon Sendikal, Politik ak Popilè / Josué Mérilien
Plateforme Haïtienne de Plaidoyer pour un Développement Alternatif (PAPDA) / Camille
Chalmers
Mouvman Leve Kanpe pou yon Lòt Endepandans / Patrick Joseph