Ato em Porto Alegre celebra a paz, justiça e democracia e combate o fascismo
O frio de 10ºC na manhã gelada deste domingo (17) não intimidou dezenas de representantes de entidades sindicais, movimentos sociais, juristas, parlamentares e militantes de partidos de esquerda, que participaram do ato ecumênico pela paz, justiça e democracia, realizado em frente ao Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, em Porto Alegre.
Foi a celebração na capital gaúcha do sétimo dia da morte do dirigente do PT e sindicalista Marcelo Arruda, de Foz do Iguaçu (PR). Ele foi assassinado a tiros no último sábado (9), durante a comemoração do seu aniversário de 50 anos pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, policial federal penitenciário, que invadiu o local da festa aos gritos de “aqui é Bolsonaro” e xingamentos contra Lula e o PT.
O ato foi marcado pelo combate ao fascismo e teve manifestações de movimentos religiosos, de juristas pela democracia, da Frente Brasil Popular e um policial antifascista. E não faltou cultura, com a boa música do grupo “Ai que saudades do meu ex”.
Ao final, foi lançado o “Manifesto pela Paz, Justiça e Democracia”, com a leitura do texto já assinado por mais de 30 entidades e que será disponibilizado para adesões nas redes sociais.
Um político nunca deveria semear ódio e medo
“A violência precisa ser estancada”, afirmou o representante do Movimento Inter-religioso de Porto Alegre, Waldir Bohn Gass, lembrando o recente documento “Um clamor pela paz”, da CNBB. “A luta pela paz é essencialmente a luta pela justiça e um político nunca deveria semear ódio e medo, mas esperança”, destacou.
O frei José Deon, das pastorais da CNBB, disse que “o Deus cristão não combina com armas” e pediu um minuto de silêncio às vítimas do ódio e da violência política. Além de Marcelo, foram recordados vários nomes, como Dom Phillips e Bruno Pereira, Marielle, Irmã Dorothy, Genivaldo, Chico Mendes, Padre Josimo, Vladimir Herzog, dentre outros. Também foram lembradas as vítimas da Covid-19. Ele pediu também “uma salva de palmas a todos os que alimentam a esperança”.
“Unidos e solidários, nós nos juntamos na dor”, salientou o representante do Movimento Fé e Política, Selvino Heck. “No nosso coração pulsa a solidariedade de quem luta e está junto dos pobres, dos oprimidos, dos ofendidos, das mulheres, dos jovens, do povo LGBTQIA+ e de tantos e tantas que sofrem a violência que nós queremos parar”, ressaltou.
Tomar as ruas sem medo diante do fascismo
O representante da Associação Brasileira Juristas pela Democracia (ABJD), José Carlos Moreira da Silva Filho, alertou que “não foi um ato isolado, mas vem precedido de um ambiente estimulado por autoridades, que estimulam através de discurso de ódio, da incitação à violência, que as pessoas que os seguem, reproduzam e concretizem essa violência”.
Zeca Moreira citou alguns exemplos históricos de outros países, como Uganda, Alemanha nazista e Itália fascista, observando que “esses discursos de ódio nada tem a ver com a democracia”.
“No ambiente político e público, quando esse discurso de ódio e a violência que dele vem, não é chamado com todas as letras e palavras que deveria ser, a tendência é que isso se amplie”, explicou Moreira. “A experiência histórica mostrou que o fascismo, na medida em que ele vai crescer e se alimenta, só encontra uma forma de ser interrompido: é as pessoas irem às ruas e mostrarem que não têm medo, afirmando claramente a sua alegria de viver e a sua esperança de uma sociedade melhor”, apontou o jurista.
Ele frisou que “a reação institucional está acovardada desde o dia em que o atual ocupante da cadeira do presidente da República, na votação do impeachment da presidenta Dilma, num processo totalmente irregular, que não está de acordo com a Constituição, um verdadeiro golpe, homenageou um torturador da ditadura civil-militar”.
“Quando, com essas palavras, não houve uma reação institucional, que deveria ter sido a cassação desse parlamentar, abriu-se as portas para um crescente”, frisou. Segundo ele, "todas essas condutas de incitação à violência e ao ódio teriam que configurar um crime de responsabilidade, de acordo com a nossa legislação”
“Aliás, o atual presidente ocupa uma coleção de crimes de responsabilidade e ele ainda não foi alvo de um processo por uma paralisia institucional e um cooptação de muitos agentes das autoridades que estão nas instituições brasileiras”, resaltou.
O jurista destacou ainda que o relatório da Polícia Civil do Paraná sobre o assassinato de Marcelo “quis apagar a existência de motivação política daquele ato criminoso, o que é algo extremamente prejudicial para ambiente de constante violência para que ele seja estancado e favorável para que ele se amplie”.
Derrotar a cultura do ódio
O representante da Associação de Juristas pela Democracia (Ajurd), Leonardo Gauer, também expressou “solidariedade e indignação” e destacou que “a violência não surge com Bolsonaro, mas é impulsionada por Bolsonaro com o discurso de ódio”.
Ele disse que “os últimos 45 anos têm sido uma verdadeira tragédia para os defensores e as defensoras de direitos humanos, com ofensas às mulheres, a comunidades indígenas, a negros e negras”. Na sua avaliação, “é um repertório tão vasto que perdemos a conta das vítimas e dos mártires”.
“É nosso papel derrotar o fascismo e a cultura de ódio”, apontou o jurista da Ajurd.
Combater o fascismo, anunciar a esperança e organizar a luta
O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, falou em nome da Frente Brasil Popular, e lembrou que as mães ensinam os seus filhos a serem bons e solidários. “Nenhuma mãe ensina alguém a ser ruim, atacar os outros”.
Na sociedade capitalista, segundo ele, “sempre existiu o apelo para as pessoas desenvolverem o egoísmo, o individualismo e a violência, mas a sociedade democrática, desde a educação das nossas mães até o aprendizado na escola, conseguiu deixar enjaulado esse ódio, que ao longo da história foi denominado como ódio fascista”.
O dirigente sindical frisou que “estava na jaula, mas alguém liberou, deu a senha e considerou normal as pessoas serem egoístas, dizer o que não se deveria dizer, o que até pouco tempo atrás a pessoa ficaria envergonhada”.
“Estamos aqui como companheiros – era sindicalista combativo, de luta -, lembrando a sua memória e reafirmando os valores da democracia, da paz e da não violência e isso se faz combatendo a fome, o desemprego e a violência e denunciando em todos os ambientes essa situação.
Conforme Claudir, “nós só vamos colocar a fera do fascismo de volta para a jaula com muita organização por baixo e muita manifestação nas ruas. As eleições não vão resolver, mas vão ajudar a criar um ambiente para que a gente continuar disputando e colocar o fascismo de volta para a jaula, de onde nunca devia ter saído”.
“Combater o fascismo, anunciar a esperança e organizar a luta. Marcelo presente, hoje e sempre! Fora Bolsonaro fascista!”, conclui o dirigente da CUT-RS.
Houve ainda a fala de um representante do núcleo dos Policiais Antifascistas, que era integrado por Marcelo, destacando a necessidade de recuperar as instituições brasileiras contaminadas pelo fascismo.
O ato contou com a participação de vários dirigentes da CUT-RS e sindicatos, movimentos sociais, como a Marcha Mundial de Mulheres, Associação Mães e Pais pela Democracia e Movimento Nacional de Luta pela Moradia, dentre outros.
Também estiveram presentes a deputada estadual Sofia Cavedon (PT), o líder da bancada de oposição na Câmara Municipal, vereador Aldacir Oliboni (PT) e a suplente do senador Paulo Paim, Reginete Bispo (PT), além de suplentes de vereadores e representantes de gabinetes de deputados.
Fotos: Marcelo Carlini e redes sociais
Fonte: CUT-RS