Análise Diária da Fundação Perseu Abramo

05/02/2020 10:19

EDITORIAL DA FOLHA - *”Ação entre amigos”*: O balanço das contas do governo federal de 2019 surpreendeu até mesmo os responsáveis pelo controle do gasto público no Tesouro Nacional. De repente, em dezembro, brotou uma despesa imprevista de cerca de R$ 10 bilhões. Era o dinheiro do aumento de capital de três empresas estatais, na maior parte para a Emgepron, firma ligada à Marinha e dedicada a construir navios, que recebeu R$ 7,6 bilhões em uma canetada. O valor equivale a todo investimento federal em obras e equipamentos dos ministérios da Saúde e da Educação, por exemplo. Dadas as peculiaridades da contabilidade pública, tal despesa não toma o lugar de outra, pois não se sujeita ao limite constitucional do chamado teto de gastos. De qualquer modo, o déficit público acabou maior. Além do mais, essa decisão inopinada e em quase nada transparente desmoraliza a alardeada política de privatização do governo de Jair Bolsonaro, pífia em sua morosidade e inoperância. O aumento do capital da Emgepron é, no entanto, coerente com uma das linhas de força do governo: o poder militar. Quase um terço dos ministérios é comandado por oficiais da ativa ou da reserva das Forças Armadas, até porque, em sua carreira, Bolsonaro não cultivou relações com outros grupos de quadros técnicos ou profissionais, além de ter sido na prática um líder sindical da categoria.
Governo e Congresso se acertaram a fim de permitir que militares se aposentem em condições privilegiadas (com o equivalente de salários e reajustes integrais da ativa). Este governo também se prontificou a conceder generosos reajustes para os soldos, em particular para o alto oficialato. O aumento de capital da Emgepron foi R$ 4 bilhões além do previsto para o ano, liberalidade facilitada pela entrada dos recursos do leilão dos campos de petróleo. Assim, o Ministério da Defesa ficou com mais de 28% do total dos recursos federais destinados a investimentos. A despesa com pessoal militar, civil, aposentados e suas pensões vai aumentar; já consomem pelo menos 26% do gasto total com servidores. O esforço para o necessário ajuste das contas públicas não tem sido distribuído de modo mais equânime. Subsídios diversos continuam intocados, por exemplo. Não é aceitável que também a despesa militar seja poupada de contribuir para essa emergência nacional. É argumentável que o equipamento militar brasileiro pode estar sendo sucateado. Mas também este é o caso da infraestrutura física e social, de estradas a hospitais. Ainda mais neste momento de escassez aguda de recursos, é preciso repensar e explicar com transparência as prioridades.

painel do leitor - *”Leitor diz ter saudade da PF dos tempos de Lula e Dilma”*

PAINEL - *”Contra precedente, deputados articulam salvar colega e derrubar decisão do STF”*: O espírito de corpo criou na Câmara um grupo relevante de deputados dispostos a derrubar a decisão do STF que afastou do mandato Wilson Santiago (PTB-PB). Ele foi denunciado sob suspeita de receber em seu apartamento e no gabinete propina desviada de obras contra a seca no Nordeste. Sem debate sobre o mérito do caso, parlamentares passaram a terça (4) discutindo o assunto, tendo como principal preocupação evitar precedente que possa se virar contra eles no futuro. A votação, marcada para esta quarta (5), será o primeiro grande teste desta Câmara, eleita pela onda anticorrupção. A decisão do STF de afastar o parlamentar foi do ministro Celso de Mello. O problema da mobilização, liderada pelo centrão, é convencer a maioria a enfrentar o desgaste de livrar um parlamentar cujo caso envolve fotos e vídeos de supostos pagamentos de propina, com imagens de um aliado enfiando maços de notas na cueca.
Os líderes do PT e do PL, duas das maiores bancadas da Câmara, indicaram ao Painel que vão votar a favor da permanência de Santiago.

PAINEL - *”Senadora cassada ainda usa verba para pagar despesas de gabinete”*: A senadora Juíza Selma Arruda (Pode-MT), conhecida como “Moro de saia”, disse que usou dinheiro público em janeiro para despesas de seu gabinete, mesmo após ter tido o mandato cassado. Os valores ainda não foram lançados no site do Senado. A parlamentar estava entre os poucos presentes na abertura do ano legislativo, na segunda (3). Ela afirmou que fez a viagem de volta das férias a Brasília com seu próprio carro e não gastou verba da cota com isso.

PAINEL - *”Promotoria arquiva inquérito sobre registros no Detran”*: O Ministério Público de São Paulo decidiu arquivar inquérito que apurava supostas irregularidades no registro de contratos de financiamento de veículos no Detran-SP. A investigação envolvia a suspeita de cartel formado pela B3, operadora da Bolsa de Valores, e a Tecnobank. O fim da apuração ocorreu três meses após a abertura, apenas com o depoimento das empresas. O promotor José Carlos Blat afirma que novas regras sobre o serviço devem sair em março, quando a investigação poderá ser desarquivada.

PAINEL - *”Comissão no Senado avalia restrição a juízes nos plantões”*: A Comissão de Constituição e Justiça do Senado deve analisar nesta quarta (5) projeto de lei que restringe a atuação de juízes durante o plantão. Foi durante o recesso que o ministro Luiz Fux, do STF, congelou a entrada em vigor do juiz das garantias. Antevendo repercussão negativa no Judiciário, senadores querem audiências públicas antes de votar.

*”PF abre inquérito para investigar Wajngarten por suspeita de corrupção e peculato”* - A Polícia Federal abriu inquérito para investigar suspeitas sobre o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), Fabio Wajngarten. A medida atende a um pedido feito na semana passada pelo MPF (Ministério Público Federal) em Brasília. O objetivo é apurar supostas práticas de corrupção passiva, peculato (desvio de recursos por agente público) e advocacia administrativa (patrocínio de interesses privados na administração pública). A investigação ficará a cargo da Superintendência da PF em Brasília. O caso correrá em sigilo. A solicitação do MPF foi feita a partir de representações apresentadas por diversos cidadãos, com base em reportagens da Folha.
Como noticiou o jornal a partir de 15 de janeiro, Wajngarten é sócio de uma empresa, a FW Comunicação, que recebe dinheiro de emissoras de TV, entre elas Record e Band, e de agências contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro. Na gestão dele, as clientes passaram a receber porcentuais maiores da verba de propaganda da secretaria. Nesta terça (4), a Folha mostrou que, ao assumir o cargo, o secretário omitiu da Comissão de Ética Pública da Presidência informações sobre as atividades da FW e os negócios mantidos por ela. A nova frente de apuração é a primeira de caráter criminal a ser aberta. Em geral, o prazo inicial de inquéritos é de 30 dias. Em nota divulgada nesta terça, Wajngarten disse que a abertura de inquérito é mais um passo na rotina do processo de investigação solicitado pelo MPF. "Será a oportunidade que terei para provar que não cometi qualquer irregularidade na minha gestão à frente da Secom desde abril do ano passado”, comentou. O secretário afirmou que, “como será comprovado, não há qualquer relação entre a liberação de verbas publicitárias do governo e os contratos da FW Comunicação”. Reiterou que se afastou da empresa “conforme a legislação determina” e que os contratos da FW são anteriores à sua nomeação para o cargo, “como pode ser atestado em cartório”. “Tenho um nome a zelar, um trabalho de mais de 20 anos no mercado, o seu respeito e reconhecimento. Confio no trabalho da PF e na decisão do MPF.” O secretário também é alvo de processo no TCU (Tribunal de Contas da União) por suposto direcionamento político de verbas de propaganda para TVs consideradas próximas do governo, principalmente Record, SBT e Band – o que afrontaria princípios constitucionais, entre eles o da impessoalidade na administração pública. A Comissão de Ética Pública da Presidência, por sua vez, avaliará a atuação dele por possível conflito de interesses público e privado.
A legislação que trata do tema proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Entre as penalidades previstas está a demissão do agente público. A prática também pode configurar ato de improbidade administrativa, demonstrado o benefício indevido. O secretário tem visitado ministros do TCU, fora de sua agenda oficial, para antecipar a defesa de sua gestão e tentar evitar um revés na corte. Também enviou o seu chefe de gabinete ao presidente da Comissão de Ética, Paulo Henrique dos Santos Lucon, na segunda-feira da semana passada, véspera de uma reunião do colegiado. A comissão transferiu para 19 de fevereiro a discussão sobre o caso do secretário. Ao chegar ao Palácio da Alvorada na noite desta terça-feira (4), o presidente Jair Bolsonaro não quis falar com a imprensa e não comentou o caso do secretário. Ele disse que não tinha novidades e não parou para falar com jornalistas, tirou fotos com apoiadores e entrou em casa. Em manifestação entregue à Justiça Federal na sexta (31), a AGU (Advocacia-Geral da União), que tem como atribuição a defesa jurídica do governo, sustentou não haver conflito de interesses na atuação do chefe da Secom.
Numa peça de 39 páginas, também alegou que não houve favorecimento dos clientes da FW, como a Record, a Band e a agência Artplan, que passaram a ter fatias maiores da verba da secretaria. A AGU argumentou que, após assumir o cargo, o secretário apresentou declaração confidencial de informações à Comissão de Ética, preenchendo os "requisitos formais" de sua nomeação. Reportagem da Folha desta terça (4), porém, mostrou que, no documento, o secretário não informou o ramo de atuação das companhias dele e de familiares, bem como os contratos mantidos por elas antes e no momento em que ocupou a função pública. O detalhamento é uma exigência legal e serve para que a Presidência previna situações irregulares. Agentes públicos são proibidos de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Entre as penalidades previstas está a demissão. A prática também pode configurar ato de improbidade administrativa.
O documento da AGU integra ação popular ajuizada pelo PSOL contra o secretário, na qual pede, em caráter liminar, a suspensão das nomeações dele e de seu adjunto, Samy Liberman. Também requer a anulação dos atos praticados por Wajngarten no exercício do cargo. Na mesma época em que assumiu a chefia da Secom, o secretário passou formalmente a administração da empresa ao empresário Fabio Liberman, irmão de Samy. Este último foi nomeado mais adiante como número dois da pasta. O PSOL diz haver incompatibilidade na situação do secretário e do adjunto, pois eles têm poderes sobre a destinação de verbas de publicidade, o que poderia gerar vantagens à FW no mercado. A AGU afirmou à Justiça que a Secom não contrata diretamente a empresa de Wajngarten. Além disso, negou haver vinculação entre os recursos que a pasta libera e os contratos privados da FW. O órgão diz que não há privilégios aos contratantes da FW na Secom. Referindo-se às TVs, justificou que elas não são contratadas diretamente pela secretaria, mas pelas agências que detêm a conta de publicidade da pasta. A compra de espaço nos veículos é definida nos planos de mídia de cada campanha, que são elaborados pelas agências a partir de demanda da secretaria e aprovados por ela própria.

*”Assessores avaliam como insustentável situação de Wajngarten, mas Bolsonaro resiste”* - Auxiliares de Jair Bolsonaro aumentaram a pressão interna no Planalto pela saída de Fabio Wajngarten da chefia da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), mas o presidente resiste em demiti-lo. A abertura pela Polícia Federal de um inquérito para investigá-lo intensificou a cobrança interna para que Wajngarten se afaste do cargo. A avaliação de integrantes do núcleo militar e do grupo ideológico ouvidos pela Folha é de que a permanência do assessor presidencial se tornou insustentável. Na avaliação deles, a manutenção de Wajngarten no cargo só aumenta o desgaste que o episódio já causou na imagem do governo. No entanto, Bolsonaro, de acordo com seus aliados, não considera afastar o chefe da Secom durante a tramitação da investigação da PF. A PF atendeu a um pedido do Ministério Público Federal, feito na semana passada, e abriu inquérito para investigar Wajngarten pelos crimes de corrupção passiva, peculato (desvio de recursos por agente público) e advocacia administrativa (patrocínio de interesses privados na administração pública). A solicitação do MPF foi feita a partir de representações apresentadas com base em reportagens da Folha.
No dia 15 de janeiro, a Folha mostrou que Wajngarten é sócio de uma empresa, a FW Comunicação, que recebe dinheiro de emissoras de TV, entre elas Record e Band, e de agências contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro. Ele nega irregularidades e conflitos de interesse. Nesta terça-feira (4), o jornal revelou ainda que, ao assumir o cargo, o secretário omitiu da Comissão de Ética Pública da Presidência da República informações sobre as atividades da FW e os negócios mantidos por ela. Na gestão de Wajngarten, seus clientes passaram a receber porcentuais maiores da verba de propaganda da Secom. A frente de apuração da PF é a primeira de caráter criminal a ser aberta. Em geral, o prazo inicial de inquéritos é de 30 dias. Segundo relatos feitos à Folha, o Planalto identificou que, nos últimos dias, a crise não tem repercutido bem entre apoiadores do presidente nas redes sociais. Esse é um movimento que costuma preocupar Bolsonaro. A troca do comando da Secom tem sido encampada por perfis identificados com a direita, que aproveitam o episódio para pregar uma mudança ampla na postura da comunicação institucional. A defesa é pela adoção de um tom incisivo contra os críticos do governo.
O discurso é que Wajngarten deveria defender o presidente com a mesma energia com que responde às acusações feitas contra ele. No governo, há quem veja nas postagens as digitais do grupo ligado ao vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Apesar do aumento do desgaste, a aposta dos dois núcleos palacianos é de que, apesar de a saída de Wajngarten ser uma questão de tempo, não ocorrerá em curto prazo. Esse atraso na saída do secretário se deve ao fato de que o presidente deve aguardar a conclusão do inquérito da PF e a do processo administrativo no TCU (Tribunal de Contas da União). A corte de fiscalização abriu processo por suposto direcionamento político de verbas de propaganda para TVs consideradas próximas do governo, principalmente Record, SBT e Band —o que afrontaria princípios constitucionais, entre eles o da impessoalidade na administração pública. Mesmo com os desdobramentos no TCU, no MPF e na PF, no Planalto já são defendidos nomes para substituir Wajngarten, como o do jornalista e youtuber Alexandre Garcia (ex-TV Globo) e do general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência, que há dias não faz um briefing diário.
Wajngarten tem visitado ministros da corte, fora de sua agenda oficial, para antecipar a defesa de sua gestão e tentar evitar um revés. Também enviou o seu chefe de gabinete ao presidente da Comissão de Ética, Paulo Henrique dos Santos Lucon, no último dia 27, véspera de uma reunião do colegiado. A comissão transferiu para 19 de fevereiro a discussão sobre possível conflito de interesses no caso do secretário. Em manifestação entregue à Justiça Federal na última sexta-feira (31), a AGU (Advocacia-Geral da União), que tem como atribuição a defesa jurídica do governo, sustentou não haver conflito de interesses na atuação do chefe da Secom.

*”AGU nega conflito e usa declaração omissa de Wajngarten em defesa na Justiça”*
*”Entenda a polêmica sobre o chefe da Secom de Bolsonaro, Fabio Wajngarten”*
ELIO GASPARI - *”Bolsonaro deve estudar seus recuos”*

*”Após injetar R$ 83 mi, Oi cobra R$ 7 mi de empresa de filho de Lula por empréstimo”* - Cercada de controvérsia, a relação entre a companhia de telefonia Oi e Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, hoje investigada na Lava Jato, atingiu uma fase de disputa entre as partes. A tele cobra da Gamecorp S.A., que tem o filho do petista como principal administrador, o pagamento de R$ 6,8 milhões com origem em empréstimos feitos entre 2006 e 2007 e nunca ressarcidos. Por meio de notificação extrajudicial, a Oi, que está em recuperação judicial desde 2016, informou, em duas ocasiões, entre 2018 e 2019, que o pagamento deveria ser feito, sob pena de a empresa "tomar as providências judiciais cabíveis". O ofício mais recente é de setembro do ano passado. Ambas as comunicações foram apreendidas pela Polícia Federal durante a fase Mapa da Mina da Lava Jato, que foi deflagrada em dezembro passado e apura se dinheiro repassado pela tele a sócios do filho de Lula foi usado para comprar o sítio de Atibaia (SP).
A propriedade rural era frequentada pelo petista e foi reformada pelas empreiteiras OAS e Odebrecht. A Oi injetou na Gamecorp, de 2004 a 2016, em valores não atualizados, um total de R$ 82,8 milhões (valores não corrigidos), e possuía participação societária de 35%. A força-tarefa da operação suspeita que esses recursos, também repassados a outras empresas associadas e a firmas de sócios de Fábio Luís, tivessem sido propina. A Receita Federal, por exemplo, já afirmou que a Gamecorp não possuía a mão-de-obra e ativos necessários para produzir os serviços vendidos. A empresa era responsável pelo canal de televisão paga PlayTV, com programação musical e de jogos.
Os empréstimos que motivaram a cobrança foram feitos por meio de contratos, à época, para "permitir o desenvolvimento de suas operações financeiras". Originalmente, os cinco empréstimos somavam R$ 1,65 milhão. A tele informou no ano passado que o cálculo atual incluía juros e multa. A iniciativa de pedir o ressarcimento ocorre muitos anos depois do vencimento. Em relatório anexado à investigação, analista da Polícia Federal ressalta o fato de que, "não obstante o vencimento destes contratos ter ocorrido nos anos de 2007 e 2008", nenhum deles foi efetivamente pago pela Gamecorp. Os papéis apreendidos, porém, mostram que, em outro braço da relação Oi-Fábio Luís, o filho do ex-presidente é reconhecido como credor da empresa. Em documento assinado em 2017, o filho do petista e representantes da companhia de telefonia reconhecem que a Gamecorp tinha R$ 1,2 milhão a receber. Além da cobrança extrajudicial, os papéis apreendidos também mostram que a tele, por ocasião do pedido de recuperação judicial, pediu para encerrar contratos que tinham sido firmados anos antes com a Gamecorp. Há documentos da Oi manifestando a intenção de romper os acordos em três deles, relativos à operação do canal Oi TV e licenciamento de produtos pela firma administrada pelo filho do ex-presidente.
A recuperação judicial da Oi, pedida em junho de 2016, foi considerada a maior da história do país, diante da dívida estimada à época em R$ 65 bilhões. A recuperação judicial é um recurso pedido por empresas que não conseguem pagar suas dívidas, para evitar que credores peçam a falência delas. Em 2017, assembleia de credores aprovou um acordo de recuperação da empresa, posteriormente aceito também pela Justiça do Rio, onde corre o processo. Os elos entre o filho do ex-presidente com a tele foram investigados pelo Ministério Público Federal em São Paulo, mas a apuração acabou arquivada. No âmbito da Lava Jato no Paraná, a relação entre as empresas voltou ao foco de investigadores em decorrência da suposta ligação com o caso do sítio de Atibaia, que já originou um dos processos em que Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Conforme a Folha mostrou na semana passada, um dos elementos da investigação sobre a Oi e o filho de Lula são materiais do ex-empreiteiro Otávio Marques de Azevedo. Ex-presidente da holding Andrade Gutierrez e atuante no setor de telecomunicações, ele se tornou delator da Lava Jato em 2016, mas voltou a ser alvo de mandados de busca em dezembro passado. A reportagem procurou a Oi para comentar o assunto, mas a companhia não se manifestou especificamente sobre a questão. A respeito da investigação, disse que "não tem medido esforços para assegurar que quaisquer ações que eventualmente possam ter prejudicado a companhia sejam integralmente apuradas". A Folha questionou também a defesa de Fábio Luís, que não comentou especificamente a questão dos empréstimos. Disse, por meio de nota, que a vida de seu cliente e atividades de suas empresas foram "devassadas por anos a fio e nenhuma irregularidade foi encontrada". "Essa nova safra de suspeitas e ilações vazadas sugere uma estratégia clara da força-tarefa para requentar um caso encerrado, a fim de tentar fixar artificialmente sua competência para conduzir uma nova investigação. Há quase um mês, papéis apreendidos em endereços de sócios de Fábio Luís estão sendo vazados seletivamente, quase todos os dias."
EMAILS DA OI TRATAM REPASSES A SÓCIO COMO PROJETO POLÍTICO
O material recolhido na fase Mapa da Mina da Lava Jato também inclui mensagens interceptadas que mostram que pagamentos para um dos sócios de Fábio Luís eram tratados dentro da Oi como "um projeto político", fora "da prestação de serviços tradicional". Relatório da PF anexado aos autos traz emails trocados entre 2011 e 2012 sobre a parceria da tele com a Gol Mobile, uma das empresas de Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís na Gamecorp e um dos compradores do sítio de Atibaia frequentado por Lula. Em janeiro de 2012, o executivo Francisco Santanna, que diz ser indicado para fazer o relacionamento da tele com Suassuna, afirma a um colega: "Até clientes (no caso a Prefeitura do Rio) estão nos cobrando que a gente pague ao parceiro, por mais absurdo que isso pareça". Dias depois, Santanna é questionado em mensagem ainda sobre a formalização desses pagamentos por meio de contratos e afirma: "Foram projetos políticos com o governo, fechados verbalmente com a diretoria antiga da Oi". Ele também acrescenta: "O parceiro fez a venda ao cliente final e a Oi foi o canal de faturamento, não é uma prestação de serviços tradicional".
O analista da polícia, responsável pelo documento sobre a troca de emails, afirma que o teor reforça a tese de que houve um "direcionamento político para a subcontratação" da Gol Mobile. A Gol Mobile, de Suassuna, foi subcontratada à época pela Oi e pela Contax (ligada à companhia de telefonia) para executar o serviço de queixas 1746, da Prefeitura do Rio. Os investigadores da Lava Jato suspeitam da origem do dinheiro usado para adquirir o sítio de Atibaia, em 2010, que teve Suassuna como um dos compradores. A defesa de Fábio Luís disse que ele não é sócio da Gol Mobile e que, portanto "não tem qualquer relação com os negócios celebrados" por essa firma. Também criticou a liberação desse material nos autos da operação. O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) e o ex-presidente Lula têm negado qualquer conduta irregular envolvendo os negócios da Oi. O deputado federal Pedro Paulo (DEM), que foi secretário municipal naquela época, afirmou em dezembro que quem define eventual subcontratação são as empresas que vencem as concorrências. A reportagem procurou a defesa de Jonas Suassuna, mas não obteve resposta.
+++ A série de reportagens “Vaza Jato” impulsionada pelo site The Intercept parece não ter trazido nenhuma luz à Folha de S. Paulo. Embora o jornal tenha mostrado em suas páginas que a força-tarefa da Lava Jato operasse sem imparcialidade e objetividade, agora, a Folha volta a dar credibilidade total às suspeitas levantadas por investigadores e abre espaço para que o público compartilhe de entendimentos que são ainda preliminares. O jornal, definitivamente, não aprendeu lição alguma.

*”Entenda operação da PF que liga a Oi a filho de Lula e o sítio de Atibaia”*

*”Lula pede à Justiça adiamento de interrogatório para visitar papa Francisco”* - A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu à Justiça para adiar um interrogatório marcado para este mês com a justificativa de que o petista pretende viajar ao Vaticano para se encontrar com o papa Francisco. Lula tem depoimento marcado na Justiça Federal de Brasília no dia 11 de fevereiro, na Operação Zelotes, em que ele é investigado por suspeita de participar de uma suposta venda de uma medida provisória que teria atendido a interesses de empresas do setor automobilístico. O ex-presidente sempre negou qualquer participação em esquema criminoso. O pedido para adiamento do interrogatório foi feito ao juiz federal Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Criminal Federal de Brasília. Segundo a defesa de Lula, a viagem dele ao Vaticano está agendada para o dia 12 deste mês, um dia após a data do depoimento na Justiça Federal, o que poderia trazer dificuldades logísticas nos deslocamentos. Os advogados dizem ainda que, no dia 13, o ex-presidente vai se encontrar com o papa Francisco, com quem tem audiência agendada. A volta do petista para o Brasil está marcada para o dia 15 de fevereiro, segundo eles. A defesa de Lula pede que seja adiado o interrogatório e afirma que, "conforme se procedeu durante todo o tramitar do feito, o peticionário declara que não deixará de comparecer a nenhum ato judicial para o qual sua presença seja obrigatória".
+++ O texto não diz que o papa convidou o ex-presidente Lula para ir vê-lo no Vaticano. O sentido construído pela notícia é outro, bem mais simples. O texto informa que Lula quer ir ao Vaticano e, na sequência, retoma todas as acusações e investigações contra o ex-presidente. A Folha tenta mostrar ao seu público que não é apoiadora de “nenhum lado”. Para isso, deixa a desejar no conteúdo jornalístico.

*”Tribunal mantém quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro”* - O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu nesta terça-feira (4) manter a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). A decisão foi por 2 votos a 1, derrotando o desembargador Antônio Carlos Amado, que havia votado na semana passada em favor do filho do presidente Jair Bolsonaro. As desembargadoras Mônica Tolledo de Oliveira e Suimei Cavalieri tinham pedido vista do processo. Nesta terça, as duas votaram contra o relator e mantiveram a decisão de abril do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal. A derrota para a defesa de Flávio Bolsonaro ocorre um dia após o senador ter enaltecido a conclusão de uma investigação da Polícia Federal, antecipada pela Folha nesta segunda-feira (3). A PF não viu indícios de que ele tenha cometido os crimes de lavagem de dinheiro e de falsidade ideológica no inquérito eleitoral que mira tanto as negociações de imóveis feitas por ele como a sua declaração de bens na eleição de 2018. O resultado apurado pela PF sobre Flávio não coincide com os elementos encontrados em outro inquérito, do Ministério Público do Rio, que apura a prática de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa —ele foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019. Nesta terça, os integrantes da 3ª Câmara Criminal do TJ-RJ analisaram um habeas corpus no qual os advogados de Flávio diziam haver ilegalidades na decisão do magistrado de primeira instância que, a pedido da Promotoria, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal. Entre os questionamentos do senador estava a suposta falta de fundamentação. A justificativa do juiz Itabaiana para a quebra de sigilo tomava um parágrafo do documento, enquanto adotava as razões expostas pelo Ministério Público em 87 páginas. Ao quebrar os sigilos de outras oito pessoas, em junho, Itabaiana refez a decisão, detalhando as razões para autorizar a medida.
No último dia 28, o desembargador Amado negou o habeas corpus pelas razões apresentadas pela defesa, mas apontou outros motivos pelos quais a decisão de primeira instância deveria ser anulada. O magistrado considerou que o senador não teve a oportunidade de se manifestar antes de ter o sigilo quebrado. Ele salientou o fato de o filho do presidente da República ter peticionado no procedimento um pedido para falar. Disse ainda que o Ministério Público do Rio afirmou, em seu pedido de quebra de sigilo, que Flávio havia se recusado a falar, o que, para ele, não condiz com a verdade. "O magistrado [Itabaiana] pode ter sido induzido a erro", disse o desembargador. Uma petição da defesa do senador, contudo, foi usada pelo Ministério Público para rebater a tese do desembargador. Nela, uma advogada do parlamentar pede para que ele seja ouvido ao final da fase de investigação, quando encerrada a coleta de provas. A representação é do dia 19 de março, antes da quebra ocorrer. A sessão do julgamento desta terça foi fechada. Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita da prática de "rachadinha", que consiste no recolhimento de parte do salário de seus funcionários, na Assembleia Legislativa do Rio de 2007 a 2018, quando o filho do presidente era deputado estadual. A apuração começou após relatório do antigo Coaf, órgão de inteligência financeira hoje ligado ao Banco Central, indicar movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor e amigo do presidente Bolsonaro.

*”PSL usou R$ 340 mil para contratar advogada que atuou na defesa de laranjas”* - Duas semanas após a revelação do escândalo das candidaturas de laranjas, o PSL nacional usou parte da verba que recebeu dos cofres públicos para contratar uma advogada exclusivamente para o diretório de Minas Gerais, um dos focos do caso. Os gastos com serviços jurídicos dobraram desde o ingresso de Bolsonaro na sigla —o presidente permaneceu no partido por um ano e oito meses e se desfiliou em novembro passado. A legenda chegou, inclusive, a prever pagamento de abono natalino a um dos escritórios. O contrato firmado para o diretório de Minas, de R$ 250 mil, foi assinado em 15 de fevereiro de 2019 com a advogada Fernanda Lage Martins da Costa. Cinco meses depois, foi reajustado para R$ 340 mil.
O objetivo do contrato, entre outros pontos, era fazer "assessoria e consultoria jurídica de 'compliance' (advocacia preventiva)" para a sigla em Minas, auxiliando a "elaboração de procedimentos internos, regulamentos, decisões e código de condutas" com o objetivo de mapear e gerir "riscos de infrações legislativas". A partir daí, a advogada passou a atuar na defesa das candidatas do PSL Lilian Bernardino, Débora Gomes, Naftali Tamar e Milla Fernandes, denunciadas pelo Ministério Público sob acusação de participar de esquema de candidaturas fictícias comandado pelo atual ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio. As candidaturas de laranjas do PSL, caso revelado pela Folha em fevereiro de 2019, também têm como foco das investigações o presidente nacional da sigla, Luciano Bivar. Ele foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de ter cometido três crimes na eleição passada. Como o jornal mostrou, sob seu comando, a sigla em Pernambuco lançou candidatas que não fizeram de fato campanha. A PF concluiu que há indícios de desvio dos recursos. A cota de gênero obriga a aplicação de pelo menos 30% do dinheiro de campanha nas candidaturas femininas. Bivar e Marcelo Álvaro sempre negaram participação em qualquer irregularidade envolvendo essas verbas.
Conforme a Folha mostrou neste domingo (2), o PSL multiplicou gastos de dinheiro público, em vários casos, adquirindo artigos de luxo, como carro de R$ 165 mil e poltronas de R$ 3.600. A partir de 2019, após a onda que elegeu Jair Bolsonaro, passou a ter direito à maior fatia do Fundo Partidário. Pulou de menos de R$ 700 mil para cerca de R$ 9 milhões ao mês. O presidente da República ingressou no PSL em março de 2018. Ele se desfiliou em novembro de 2019 após entrar em conflito público com Bivar. Atualmente, tenta colocar de pé o Aliança pelo Brasil, incluindo a tentativa de levar para a nova sigla parte das verbas hoje nos cofres do PSL. Os contratos e relatórios de atividades da advogada Fernanda Lage Martins da Costa constam da papelada que integra a prestação de contas do PSL relativa a 2019. O partido colocou a documentação em seu site após os atritos públicos com Bolsonaro —pela lei, a sigla só teria que prestar contas em junho deste ano. Em seus relatórios de trabalho, Fernanda relata visitas à Polícia Federal e o acompanhamento jurídico das candidatas laranjas. À Folha a advogada ressaltou que a lei dos partidos políticos permite a contratação de serviços jurídicos para "litígios que envolvam candidatos do partido, eleitos ou não, relacionados exclusivamente ao processo eleitoral".
O tema é fonte de grande controvérsia, inclusive no Congresso Nacional, que foi o responsável por incluir essa redação na lei, em setembro de 2019, ou seja, sete meses após a contratação da advogada pelo PSL. "As ditas candidatas investigadas concorreram às eleições de 2018 pelo PSL e são filiadas à agremiação até a presente data. Pediram ao partido assistência jurídica, o que foi concedido pelos membros da administração. Acredita o PSL existir uma grave distorção dos fatos envolvendo não só as ex-candidatas, como também diversos integrantes da administração estadual nas eleições passadas. A pecha de 'candidaturas laranjas' macula, sem justa causa, a imagem do partido", afirma a advogada. Fernanda diz ainda que foi contratada para atuar na reestruturação do partido em Minas porque o diretório encontrava-se "com diversas pendências financeiras e de prestação de contas" e "vinha cumprindo, há anos, sucessivas penalidades eleitorais por desaprovação das prestações de contas, partidária e eleitoral, especificamente de 2007 a 2016". Segundo ela, o partido só voltou a receber verbas do Fundo Partidário em novembro do ano passado, "com a regularização de sua situação jurídico-eleitoral, após intenso trabalho realizado por esta profissional." Os documentos da prestação de contas do PSL mostram que, fora a folha de pagamento, o maior gasto do partido é com advogados. Em 2018 foi de R$ 1,35 milhão, saltando para R$ 2,6 milhões no ano passado.
Entre os escritórios que receberam verba do PSL em 2018 e 2019 está o de Karina Kufa, responsável pela prestação de contas da campanha de Jair Bolsonaro. Rompida com o PSL, hoje ela é uma das que trabalham para colocar de pé o Aliança pelo Brasil. Em 2018 há registro de R$ 114 mil pagos pelo partido, incluindo um contrato de R$ 100 mil relativo à prestação de contas da legenda daquele ano. Em 2019, os documentos do PSL mostram mais dois contratos, um de R$ 200 mil para representar o partido em ações no Supremo Tribunal Federal e outro, de R$ 40 mil ao mês, para serviços jurídicos ao PSL de São Paulo. Após o rompimento entre o PSL e Boslonaro, o partido passou a cobrar de volta R$ 200 mil de Kufa sob o argumento de que ela não prestou os serviços contratados. "Os contratos de 2018 e 2019 compreendiam objetos e períodos distintos. Os serviços foram devidamente prestados e justificados pelos relatórios acompanhados das notas fiscais, antes mesmo das autorizações de pagamentos, sendo inverídica qualquer outra informação", afirmou a advogada à Folha. Escritório que presta serviço ao PSL desde a época do naniquismo, o Siqueira e Duarte viu seus rendimentos mensais provenientes do Fundo Partidário quase dobrarem após a vitória eleitoral de Bolsonaro, saindo de R$ 31 mil para R$ 56 mil.
No contrato de trabalho o PSL se compromete a pagar ainda, com verba do fundo, um abono natalino ao escritório, do mesmo valor da mensalidade (R$ 56 mil). Um dos sócios da firma, Enio Siqueira é quem responde pela parte jurídica do partido. Conforme a Folha mostrou neste domingo (2), sua sócia, Aira Veras Duarte, apresentou em 2018 e 2019 várias notas ao partido, para reembolso, de gastos em alguns dos restaurantes mais caros da capital federal, como Gero e Rubaiyat. O escritório não respondeu às perguntas da Folha. Outros escritórios cujos contratos aparecem na prestação de contas do partido são o de Leonardo Andrade (R$ 70 mil ao mês para atuação também em Minas Gerais), além de outros com atuação na Paraíba, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Bahia e Distrito Federal. Esse último, a cargo do Silveira e Unes Advogados, têm sete contratos específicos. O mais caro, de R$ 260 mil, é para acompanhamento dos processos de prestações de contas do PSL nacional relativo a 2014, 2015, 2016 e 2017. Em nota, o PSL afirmou, de forma geral, que o crescimento do partido em relação a 2018 justifica o aumento dos gastos, e que todos eles foram feitos de forma legal e com serviços efetivamente prestados. O Palácio do Planalto não quis se manifestar.

*”Em briga interna, PSL tenta suspender de novo deputados ligados a Bolsonaro”* - Em uma nova tentativa de recuperar a liderança da bancada do PSL na Câmara, a Executiva Nacional do partido decidiu nesta terça-feira (4) suspender novamente das atividades partidárias Eduardo Bolsonaro (SP) e outros 16 deputados federais alinhados a Jair Bolsonaro, eleito pelo PSL e hoje sem partido. A Executiva é ligada ao presidente da sigla, deputado Luciano Bivar, de Pernambuco. A medida ainda precisa ser referendada pelo diretório nacional da legenda, que tem reunião marcada para a próxima terça-feira (11). Há uma ala da direção do partido disposta a rejeitar a decisão desta terça-feira para evitar prolongar a briga interna no PSL, que se arrasta desde outubro de 2019. Dirigentes ligados a Bivar, porém, acreditam que é necessário reforçar a posição contrária à conduta dos bolsonaristas para isolá-los internamente. No ano passado, 14 deputados federais já haviam sido suspensos pelo partido e tiveram a decisão homologada pela Câmara. Um dos objetivos da ala ligada a Bivar era conseguir a maioria dos 53 deputados para emplacar Joice Hasselmann (SP) na liderança da bancada no lugar de Eduardo Bolsonaro. Joice chegou a ser nomeada líder do PSL. Os parlamentares punidos, porém, conseguiram reverter as sanções na Justiça e Eduardo retomou o posto. O objetivo do novo ato é conseguir mais uma vez a maioria da bancada para fazer de Joice a líder do partido no lugar de Eduardo em definitivo. Suspensos das atividades partidárias, eles não podem representar o PSL na Câmara.
Depois disso, novas representações contra o grupo foram apresentadas na comissão de ética do PSL, no final do ano. Nestes novos questionamentos à conduta dos deputados, foram usados como argumento o fato de eles fazerem campanha pela desfiliação de integrantes do PSL e apoio à Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro tenta criar. A comissão de ética entendeu que eles incorreram em infidelidade partidária e por isso recomendou aos dirigentes da legenda a aplicação de sanções. A Executiva acatou as sugestões nesta terça e decidiu por suspender os seguintes deputados federais pelo período de 12 meses: Aline Sleutjes (PR), Bibo Nunes (RS), Sanderson (RS), Márcio Labre (RJ), Daniel Silveira (RJ), Major Vitor Hugo (GO), Caroline de Toni (SC), Bia Kicis (DF), Filipe Barros (PR), Carlos Jordy (RJ), Helio Lopes (RJ) —conhecido por Helio Negão—, Chris Tonietto (RJ), Eduardo Bolsonaro (SP), Júnio Amaral (MG), Carla Zambelli (SP), Alê da Silva (MG) e general Girão (RN). Desses, apenas Helio Negão, Tonietto e Sleutjes haviam sido sancionados com advertência no ano passado. Além deles, foi sugerida a suspensão dos deputados estaduais Gil Diniz (SP) e Douglas Garcia (SP).
Dirigentes do partido entendem que a decisão da Justiça que impediu um grupo da sigla de ser suspenso da atividade parlamentar não o protege de novas sanções. "O partido não é a casa da mãe Joana. O PSL tem um estatuto e tem regras, só que, infelizmente, por mais de uma vez alguns parlamentares faltaram com decoro, ofendendo e caluniando o partido na imprensa, nas redes sociais e na própria Câmara", diz o deputado Júnior Bozella (PSL-SP), vice-presidente da sigla. "Além disso, eles [os deputados suspensos] vêm abertamente infringindo o estatuto declarando apoio a outra legenda, são coisas que não podemos permitir. Gostaríamos que não fosse necessário, mas infelizmente este grupo tem insistido em desrespeitar o nome e a história do PSL. Ninguém é obrigado a estar em lugar algum, mas se a decisão foi ficar o mínimo que existimos é respeito", afirma Bozella. A briga no PSL que se arrasta desde outubro de 2019 foi motivada por críticas de Jair Bolsonaro e seus apoiadores à gestão de Luciano Bivar. O presidente da República acusa o dirigente de não dar transparência às contas da sigla. Como a Folha revelou no ano passado, o PSL está no centro de um escândalo que envolve o uso de verbas públicas para candidaturas laranjas em Pernambuco e em Minas Gerais. Nesta semana, a Folha também mostrou que a direção da sigla usou dinheiro do fundo partidário para bancar a compra de carros e restaurantes de luxo. Em novembro, Bolsonaro se desfiliou da sigla, mas conseguiu emplacar seu filho Eduardo na liderança da bancada na Câmara. Outros 26 deputados pediram desfiliação por justa causa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

CONRADO HÜBNER MENDES - *”O que temem os que temem a liberdade acadêmica?”*
*”Alcolumbre faz bate e volta em avião da FAB para reduto eleitoral após fim de recesso”*

*”Apuração parcial indica Buttigieg e Sanders à frente em prévia democrata marcada por caos e atrasos”*
*”YouTube diz que proibirá conteúdo enganoso relacionado à eleição americana”*
*”Evo Morales confirma candidatura ao Senado da Bolívia”*
*”Berlim congela aluguéis por 5 anos para tentar frear gentrificação”*

*”Surto na China muda projeções de PIB para o Brasil em 2020”* - A epidemia de coronavírus na China e seus efeitos sobre a economia global devem contribuir para a desaceleração da atividade no Brasil no primeiro trimestre de 2020, o que tem levado economistas a rever para baixo as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto). Uma desaceleração adicional também reforçou a percepção de que o Banco Central do Brasil deverá promover um novo corte na taxa básica de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) marcada para esta quarta-feira (5), de 4,50% para 4,25% ao ano. Desde o ano passado, já era esperado um desempenho mais morno da economia brasileira no começo de 2020, por conta de fatores como o fim dos efeitos da liberação do FGTS sobre o consumo. A intensidade da desaceleração dependeria, principalmente, do ritmo de crescimento do final de 2019 e do comportamento da economia mundial.
Os dados divulgados sobre o comportamento da economia brasileira nos meses de novembro e dezembro reforçaram a percepção de um quarto trimestre com ritmo próximo ao verificado nos três meses anteriores, na contramão de projeções mais otimistas. O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou em dois eventos no mês passado que algumas projeções do mercado não estavam contemplando uma desaceleração já esperada da indústria e um efeito menor do FGTS sobre o consumo. A expectativa de desaceleração da economia chinesa, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, veio para gerar mais incertezas, embora seus impactos ainda sejam difíceis de se mensurar.
A economista Laura Pitta, do Itaú-Unibanco, especialistas em China, traça dois cenários, ambos de crescimento inferior aos 6% projetados anteriormente pela instituição. Se houver estabilização do contágio em meados de fevereiro e a atividade econômica começar a se normalizar, o país asiático pode ter expansão de 5,8% neste ano. No cenário mais pessimista, no qual a incerteza se estenda por um período maior, até o segundo trimestre, por exemplo, o crescimento projetado é de 5,3%. “A resposta das autoridades chinesas está sendo robusta. A economia está parando para que o combate ao vírus seja mais rápido. A dúvida é se a resposta vai ser suficiente”, afirma a economista. Ela diz que o isolamento de cidades e o fechamento de estabelecimentos pode gerar um impacto maior no curto prazo sobre a atividade, mas, se as medidas forem eficazes, a retomada será mais rápida. Afirma ainda que o setor de serviços, do qual a economia chinesa tem se tornado mais dependente nos últimos anos, deve ser o mais afetado, mas que a indústria pode se recuperar ainda neste ano. Segundo a economista, outra mudança relevante é que a estrutura da economia chinesa não permite tantos estímulos como na época da Sars (forte síndrome respiratória que apareceu em 2002), quando o país vivia um boom. “Hoje, o país está em um cenário de desaceleração estrutural. Tem menos espaço para estímulos.” A instituição não divulgou projeções sobre o impacto da desaceleração na China, mas afirmou, em relatório da última sexta-feira (31), que os efeitos tendem a ser passageiros, mas podem gerar pressão negativa sobre a atividade global e um potencial risco de baixa para a recuperação no Brasil. O Itaú projeta crescimento para o Brasil de 2,2% para 2020, perto dos 2,3% da pesquisa Focus do BC. O banco suíço UBS, em relatório divulgado nesta terça (4), reviu a projeção de crescimento da China de 6% para 5,4%. Para o Brasil, a expectativa de expansão para 2020 foi revista de 2,5% para 2,1%. A instituição também espera mais dois cortes na taxa básica de juros, para 4,25% nesta quarta e 4% na reunião do Copom de março.
Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, mantém a previsão de alta do PIB brasileiro para este ano em 2,5%, mas mudou o viés de alta para de baixa. “A gente sabe muito pouco sobre qual vai ser o impacto final disso. O mercado tenta achar paralelos com outros casos, como a Sars. Se for isso, pode demorar mais duas semanas para estabilizar, e aí o mercado se tranquiliza”, afirma. “Neste momento, qualquer discurso catastrofista, de que isso vai isso prejudicar de forma indelével o crescimento brasileiro, é especulação.” De acordo com o economista, que previa manutenção da taxa de juros na reunião do Copom desta quarta e passou a prever um corte de 0,25 ponto percentual, o BC tem agora, por causa da China, motivos para estar menos preocupado com os efeitos inflacionários de uma recuperação da atividade. Levantamento feito pela agência Bloomberg junto a 40 analistas mostra que 80% esperam queda dos juros para 4,25% nesta quarta. Outros 20% projetam manutenção da taxa básica em 4,5% ao ano.

*”Banco Mundial reduzirá previsão de crescimento global por coronavírus”*
*”Retração no ano passado deixa indústria mais distante de seu pico, em 2011”*
*”Ano começa com queda nas vendas de automóveis, segundo Fenabrave”*

PAINEL S.A. - *”Depois de almoço com Bolsonaro, Skaf se reúne com embaixador argentino”*
PAINEL S.A. - *”Cresce demanda de chineses para comprar máscaras contra coronavírus de brasileiros”*
PAINEL S.A. - *”Mercado espera nova onda de abertura de capital no setor imobiliário”*
ANÁLISE - *”Indústria é ducha de água fria para quem espera retomada mais forte”*
ANÁLISE - *”Setor precisa ficar mais produtivo para aumentar competitividade”*

*”Ibovespa segue em recuperação e sobe 0,8%”*
*”EUA dão prazo para Odebrecht cumprir acordo e pagar monitores”*

*”Ex-operador da Petrobras fecha acordo de delação premiada em caso com tradings”* - Um ex-operador da Petrobras assinou um acordo de delação premiada com procuradores brasileiros que investigam acusações de corrupção, disseram advogados de defesa e promotores, marcando um potencial progresso em um caso que envolve algumas das maiores casas de trading de commodities do mundo. Rodrigo Garcia Berkowitz, que atuou como trader da Petrobras em Houston até o final de 2018, quando foi acusado de aceitar propinas, chegou ao acordo em dezembro, afirmaram advogados, acrescentando que a delação foi aprovada pela Justiça no final de janeiro. Procuradores alegaram em dezembro de 2018 que Vitol, Glencore e Trafigura, entre outras empresas de trading, pagaram dezenas de milhões de dólares em propinas a funcionários da Petrobras de 2011 a 2014, pelo menos. Em troca, essas companhias adquiriam combustíveis da estatal com descontos ou vendiam produtos à empresa com prêmios. Dois dos advogados de defesa de Berkowitz falaram à agência Reuters na segunda-feira (3). Procuradores do MPF (Ministério Público Federal) também confirmaram o acordo à agência Reuters, mas se recusaram a fornecer mais detalhes, afirmando que os conteúdos do termo ainda são confidenciais.

*”Auditora do BNDES criticada por Bolsonaro tem contratos de R$ 635 milhões com a Petrobras”* - O escritório Cleary Gottlieb, contratado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) por R$ 48 milhões para realizar auditoria que não encontrou resultados, é um velho conhecido do governo brasileiro. Nos últimos anos, os americanos fecharam contratos de aproximadamente US$ 150 milhões (cerca de R$ 635 milhões) com a Petrobras. Na última terça-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou a auditoria no banco. Segundo ele, houve um erro, sem especificar qual foi. No dia seguinte (29) presidente do BNDES, Gustavo Montezano, defendeu que o dinheiro gasto não foi tanto em comparação com exemplos internacionais. Todos os contratos do Cleary Gottlieb com a Petrobras foram fechados sem a realização de licitações, por inexigibilidade no processo de concorrência. Os cinco primeiros, por serviços técnicos de natureza singular, enquanto o último fechou por inviabilidade de competição. Procurado, o Cleary Gottlieb afirmou que não comenta questões relacionadas a seus clientes. Foram seis acordos entre o Gottlieb e a Petrobras desde 2013, sendo que quatro deles ainda estão em vigor. O primeiro deles, de US$ 2,97 milhões, foi para a realização de assessoria e consultoria jurídica em direito nos EUA e tem duração até 2020. O segundo, em 2014, se encerrou em dezembro do ano passado e tinha o valor de US$ 27,991 milhões. O escritório efetuou serviços técnicos jurídicos especializados na defesa dos interesses da Petrobras e de seus gestores e ex-gestores em ações coletivas. Depois, em 2015, a empresa foi novamente contratada pela petroleira, desta vez por US$ 7,47 milhões, para assessoria de operação de "consent solicitation", quando o emissor de um título propõe alterações nos termos de um contrato de segurança ou gerenciamento corporativo. Esse acordo durou dois anos. Novamente em 2015, a Petrobras contratou o escritório para defender a empresa e seus gestores perante um tribunal em Nova York por US$ 3 milhões, em acordo que vai durar até setembro deste ano.
Em 2016, o Cleary Gottlieb foi novamente acionado pela petrolífera, no que foi o maior acerto entre as partes até então: US$ 105,36 milhões, pela defesa dos interesses da Petrobras e de gestores em ações individuais movidas por investidores. Esse contrato dura até janeiro do ano que vem. A última contratação entre as partes ocorreu em julho de 2018, com quatro anos de duração, por serviços jurídicos em ação confirmatória de sentença arbitral, no valor de US$ 3,52 milhões. Em seu site oficial, o Cleary Gottlieb cita experiência de seus parceiros em defender a Petrobras "em litígios de fraude de valores mobiliários decorrentes da 'Operação Lava Jato', um dos maiores escândalos de corrupção da história da América Latina". Existem várias menções à Petrobras no site do escritório. Em uma delas, em setembro de 2019, os advogados definem a petrolífera como "cliente de longa data" e apontam que representaram a empresa em ofertas de compras de aproximadamente US$ 7 bilhões. Em outra, em agosto do ano passado, o escritório aponta que representou em ofertas de compra pela subsidiária Petrobras Global Finance, por preço de compra que ficou em até US$ 3 bilhões. Em nota de novembro de 2019, o Cleary Gottlieb aponta que defendeu a República Federativa do Brasil em ofertas registradas de US$ 2,5 bilhões em títulos globais.
Ainda segundo registros no site, o escritório diz ter representado o BNDES em ofertas de títulos de US$ 2,5 bilhões, nos anos de 2013, 2014 e 2017. O banco confirma já ter contratado o Cleary Gottlieb para assuntos de assessoria jurídica internacional. Procurada, a Petrobras afirmou que celebrou contratos com o escritório Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP para atuação fora do território brasileiro, em demandas envolvendo direito estrangeiro. A OAB, por sua vez, disse que solicitou informações sobre o contrato do BNDES com o escritório Cleary Gopttlieb Steen & Hamilton com o objetivo de verificar se foram cumpridas as normas legais que disciplinam a atuação de escritórios estrangeiros no Brasil. No mesmo sentido, foram enviados ofícios para a Eletrobras e para a Petrobras, solicitando informações de contratos com todos os escritórios de advocacia estrangeiros ou consultores que prestaram serviço às empresas nos últimos cinco anos. A OAB afirma que, de acordo com as normas (provimento 91/2000), o profissional estrangeiro pode atuar no Brasil em assuntos de direito específico e estrangeiro, ou seja, não pode alcançar matéria de direito brasileiro, seja em consultoria, seja em procuratório judicial.

*”Ministério da Economia arquiva processo contra Bradesco na Zelotes”* - A corregedoria do Ministério da Economia decidiu arquivar o processo administrativo contra o Bradesco referente à Operação Zelotes, conforme publicado no Diário Oficial da União desta segunda-feira (3). Segundo o ministério, não foram encontradas evidências contra o Bradesco. O Bradesco informou, em comunicado enviado ao mercado nesta terça (4), que a decisão foi tomada após o reconhecimento da inexistência de prova de que o banco tenha prometido, oferecido ou dado, direta ou indiretamente, vantagem indevida aos agentes públicos envolvidos na operação. Procurada, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) não respondeu até a publicação desta reportagem.

VINICIUS TORRES FREIRE - *”Exportação e indústria estão com vírus, que ainda não é o da China”*

*”BNDES propõe que estados concedam apenas esgoto e mantenham água estatal”* - O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está estruturando um modelo para as empresas de saneamento, com governos estaduais, que desvincularia a distribuição de água da coleta de esgoto, à espera da aprovação no Congresso de um novo marco legal que estimule investimento privado no setor. Segundo o presidente do banco, Gustavo Montezano, o modelo deve tornar as empresas mais atraentes para os investidores e, ao mesmo tempo, manter a distribuição de água na mão do Estado. O objetivo, afirmou em conversa durante a reunião do Fórum Econômico de Davos, na Suíça, é permitir que o governo administre eventuais problemas de consumo, como o que ocorre no Rio de Janeiro, onde a água distribuída pela Cedae tem alterações de cor, gosto e cheiro alterados, preocupando a população. “Água tem que ficar com o Estado.” Montezano disse ter sido indagado por investidores durante o Fórum, que ocorreu no final de janeiro, a respeito da reforma do saneamento —a aprovação do novo marco legal que travou no Congresso no final do ano. O novo modelo pode ser uma forma de destravá-la. No momento, disse o presidente do BNDES, trabalha-se com três estados: Amapá, Acre e Alagoas. Conforme houver progresso, disse, o Rio de Janeiro entraria na lista. O Brasil ainda tem 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta e ao tratamento de esgoto, e 35 milhões sem acesso a água tratada. Doenças decorrentes da falta de saneamento no SUS custaram R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos.

*”Motivo de disputa entre Bolsonaro e governadores, preço de combustível cai lentamente nas bombas”*
*”Senador quer bancar 13º do Bolsa Família com imposto sobre lucros e dividendos”*
*”Primeira votação de MP do Emprego Verde e Amarelo ficará para depois do Carnaval”*

*”TST determina que 90% dos petroleiros mantenham atividade durante greve”* - O ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Ives Gandra Martins Filho determinou nesta terça-feira (4) que 90% dos funcionários da Petrobras mantenham-se em atividade e no desempenho normal de suas atribuições, conforme decisão vista pela agência Reuters, em meio a uma greve de petroleiros iniciada no sábado. No documento, o ministro também determinou que os petroleiros abstenham-se de impedir o livre trânsito de bens e pessoas nas unidades da Petrobras e de suas subsidiárias. Parte da categoria está em greve desde o início da madrugada de sábado (1). Eles pedem que a Petrobras recue no projeto de fechar a Araucária Nitrogenados e questionam medidas adotadas pela empresa na gestão dos trabalhadores.
De acordo com a FUP (Federação Única dos Petroleiros), há mobilizações em 30 unidades do Sistema Petrobras em 12 estados, incluindo refinarias, terminais e plataformas de petróleo. Na segunda-feira (3), um grupo de petroleiros paranaenses decidiu acampar em frente à sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro, em protesto contra as demissões previstas com o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados. Dentro do edifício, sindicalistas mantêm uma ocupação, em tentativa de forçar negociações. A estatal diz que a paralisação não afeta suas operações. "O movimento grevista iniciado no último sábado não gera impactos na produção nem no abastecimento do mercado", afirmou a empresa, em comunicado. Durante o fim de semana, a Petrobras tentou na Justiça ordem para retirar os sindicalistas que ocuparam uma sala de reunião na sexta, mas o pedido foi negado pela juíza Rosane Ribeiro Catrib, da Justiça do Trabalho. Para ela, a ocupação "é um sinal de resistência, próprio do jogo democrático". "O que se vê é a legítima atuação do sindicato no sentido de persuadir a empresa à negociação. Negociação frustrada após uma reunião para a qual foram convidados e não saíram porque, como já dito, permanecem em mesa para negociar", escreveu a juíza.

*”ANTT determina redução de 5% na tarifa de pedágio na Dutra”*
*”Hyundai segue Chevrolet e desiste do Salão do Automóvel de São Paulo”*
*”Gol e American Airlines anunciam acordo de compartilhamento de voos”*
HELIO BELTRÃO - *”O preço bom”*
*”Ações da Tesla disparam mais de 20% após dados positivos”*

*”Empresas de tecnologia mais ricas ampliam poder e praticamente eliminam concorrência”*
*”EUA pressionam pelo desenvolvimento de uma alternativa à Huawei no 5G”*
*”Dona da Bolsa de Nova York faz oferta para comprar eBay, diz jornal”*

*”MEC quer prova federal para crianças a partir de 6 anos e planeja mudar Enem”* - O governo Jair Bolsonaro quer promover mudanças no sistema federal de avaliação da educação básica, o Saeb, e ampliá-lo para todas as séries da educação básica, incluindo o 1º ano do ensino fundamental —o que significa aplicar provas para crianças de 6 anos. A cúpula da pasta insiste nas mudanças, que não têm respaldo da área técnica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). A avaliação do 1º ano ocorreria ainda em 2020. A implementação para todos os anos ocorreria de forma gradual até 2025.
Os planos vêm à tona enquanto o governo ainda enfrenta na Justiça questionamentos sobre as falhas nas notas do Enem. A reformulação planejada pelo MEC (Ministério da Educação) também prevê alterações no exame a partir da edição de 2024. As alterações no Enem devem ser definidas até o fim deste ano. O grande desafio para o exame é adequá-lo à reforma do ensino médio, ainda em fase inicial de implementação. A reforma prevê que parte da grade curricular seja de escolha dos alunos em uma de cinco áreas (se houver oferta): linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico. O currículo dessas áreas ainda está em construção nos estados. Uma das ideias sob análise é que os alunos possam fazer uma prova adequada para a área que estudou. Atualmente, o Saeb testa o 5º e 9º ano do ensino fundamental e o 3º do médio. Os resultados são cruzados com dados de fluxo escolar (repetência e abandono) para se chegar ao Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
O governo divulga uma nota do Ideb para cada escola. Isso só é possível porque o Saeb é aplicado para todos os alunos. As mudanças planejadas pela atual equipe do governo preveem que isso também ocorra para todas as séries. A prova avalia hoje língua portuguesa e matemática —em 2019, a disciplina de ciências foi incluída de forma amostral. Há a intenção de incluir outras áreas do conhecimento gradualmente. Os planos para alterar o Saeb começaram a ser desenhados no ano passado. As falhas com as notas do Enem reduziram o ritmo dos trabalhos no Inep, mas o tema já foi apresentado no Conselho Nacional de Educação. Técnicos da Diretoria de Avaliação da Educação Básica do Inep são contrários a essas alterações, segundo a Folha apurou. Há questionamentos sobre a viabilidade logística, pedagógica e tecnológica. O Saeb mais recente, do ano passado, teve um custo de cerca de R$ 500 milhões. Não há informações sobre o impacto financeiro que a medida provocaria.
Com a mudança, o público avaliado passaria de 6,8 milhões para 29,2 milhões de estudantes da rede pública. A área técnica recomenda que alterações ocorram somente após 2021, quando se encerra o ciclo de metas do Ideb. A gráfica que imprimiu o Enem, chamada Valid, também tem contrato para imprimir as provas dessa avaliação, que ocorrem a cada dois anos. Na edição de 2019, por causa de atraso nas impressões, o cronograma de aplicação teve de ser estendido. O Inep conta com o avanço gradual de aplicações feitas por computador para viabilizar o projeto até 2025. A medida tem entraves técnicos e de infraestrutura. "Por enquanto é uma ideia não claramente planejada e definida. Não há as definições necessárias para a implementação de uma mudança tão grande", diz Maria Helena Guimarães de Castro, integrante do Conselho Nacional de Educação e presidente da Abave (Associação Brasileira de Avaliação Educacional). Há especialistas em educação que desaconselham provas para crianças do 1º ano, ainda com 6 anos. No Saeb 2019, o Inep aplicou uma prova amostral para crianças do 2º ano do ensino fundamental para testar o nível de alfabetização —a avaliação federal dessa etapa era antes aplicada no 3º ano.
Além disso, há um grande desafio das redes e escolas para se apropriarem dos resultados das avaliações de larga escala para promover mudanças pedagógicas. Assim, o Brasil avalia muito, mas não consegue reagir aos resultados. Para a professora da USP Sandra Zákia, não faz sentido ampliar os exames para subsidiar políticas públicas. "A ideia não faz sentido, a intenção do governo é intensificar uma pressão já exercida pela avaliação sobre a escola, numa lógica de gestão por resultados", diz ela, que é especialista em avaliação. "Já temos muitas evidências de pesquisas mostrando que essa lógica incita a competição e, consequentemente, resulta na seleção e exclusão de parcelas dos alunos e na intensificação de desigualdades."
Cecilia Motta, presidente do Consed (entidade que representa secretários estaduais de Educação), diz que a avaliação externa é um bom termômetro do que está acontecendo na escola e nas redes. "Vemos com bons olhos as avaliações serem feitas em todas as séries, desde que o resultado esteja na mão da secretaria até fevereiro", diz. Segundo Motta, que é secretária de Educação de Mato Grosso do Sul, ainda há um caminho a percorrer para que as redes e escolas compreendam o significado do que é medido. A avaliação a partir do 1º ano foi uma demanda da Sealf (Secretaria de Alfabetização) do MEC. Comandada por Carlos Nadalim, indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, a Sealf capitaneia a nova Política Nacional de Alfabetização do governo. O plano de implementação dessa política prevê uma nova avaliação de fluência de leitura. Essa prova seria feita também neste ano por meio de uma gravação de leitura das crianças. A medida consta de documento do projeto do MEC chamado Tempo de Aprender, ao qual a Folha teve acesso. O programa prevê reformulação do PNLD (Programa Nacional de Livros Didáticos) para adequá-lo aos preceitos da nova política de alfabetização. O governo já havia publicado em dezembro um decreto que permite à Sealf produzir material de alfabetização por conta própria, independentemente dos processos previstos no PNLD.
O Tempo de Aprender prevê ainda formação para profissionais alfabetizadores, apoio pedagógico (com pagamento para professores assistentes) e premiação para docentes por desempenho. O programa vai depender de adesão dos governos e das redes com piores resultados serão privilegiadas. A Undime, que representa as secretarias municipais de Educação, encaminhou carta ao MEC em que afirma não ser parceira do projeto, embora a entidade seja citada no documento como tal. "A instituição não se nega a contribuir com a melhoria de programas já desenhados, mas tal participação não significa firmar apoio", diz carta. "Qualquer alteração em um sistema nacional, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), deve considerar o processo de implementação da BNCC [Base Nacional Comum Curricular], devendo estabelecer um período de transição que respeite, também, o ciclo de alfabetização", completa nota da Undime. O cronograma de alterações no Saeb prevê reformulações das matrizes curriculares que baseiam as avaliações. No caso do projeto de alfabetização, a Base Nacional, que determina o que os alunos devem aprender, não é citada. O MEC não quis comentar informações sobre o programa de alfabetização, que "será lançado e divulgado em breve". A Folha questionou o Inep, mas não obteve respostas até a publicação deste texto.

*”Mudança climática não é a maior crise do planeta, diz assessor ambiental de Trump”*
*”Prêmio Nobel diz que ação do Brasil em conferência do clima foi vergonhosa”*

MÔNICA BERGAMO - *”Mandetta discutirá coronavírus com 54 secretários de estados e capitais”*
MÔNICA BERGAMO - *”Moro e Onyx farão discurso na festa de 400 dias do governo Bolsonaro”*

MÔNICA BERGAMO - *”Comitê Lula Livre lança marcha de Carnaval que chama Moro de bandido”*: O comitê Lula Livre vai lançar uma marchinha de Carnaval para blocos inspirados no ex-presidente. O foco é o ministro Sergio Moro. “Lula é inocente, eu não!”, diz a letra. “Lula tá solto, mas pra gente ser feliz, é Lula livre. O bandido era o juiz”, segue o refrão.

MÔNICA BERGAMO - *”Igreja Universal vai fazer show para 40 mil jovens em SP”*
MÔNICA BERGAMO - *”Irmão de viúva de Gugu deve deixar casa da família do apresentador”*
MÔNICA BERGAMO - *”Alesp cria CPI para apurar irregularidades nos contratos de organizações sociais com governo”*
MÔNICA BERGAMO - *”Prefeitura gasta R$ 190 mill para contratar Pussy Riot como atração de festival”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Cedae deixa 67 bairros do Rio e 6 cidades da Baixada sem água”*

*”Investigado no Planalto – PF abre inquérito sobre atuação de Wajngarten à frente da Secom”*
*”TJ do Rio mantém quebra de sigilo de Flávio”*
*”Comissões da Câmara são alvo de disputa entre partidos”*
*”Eduardo prefere que Aliança só esteja nas urnas em 2022”*

*”Lula adia depoimento para se encontrar com Papa Francisco”* - A 10ª Vara Federal de Brasília está avaliando uma nova data para o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma das ações da Operação Zelotes, que estava marcado para a próxima terça-feira. O motivo é o encontro que Lula terá na próxima semana com o Papa Francisco, no Vaticano. A audiência com o Papa foi intermediada e divulgada pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández. Na petição encaminhada ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, a defesa do petista informou à Justiça que Lula realizará uma viagem internacional para o Vaticano, “onde será recebido em audiência por Sua Santidade, o Papa Francisco, no dia 13 de fevereiro”. Segundo o documento, a viagem ocorrerá entre os dias 12 e 15 deste mês. Seus advogados acreditam que o ex-presidente não deve ter problemas para deixar o país, desde que avise a Justiça sobre o deslocamento. Fernández chegou a visitar Lula na cadeia, em Curitiba, quando ainda era candidato à Presidência da Argentina. Um dos temas da conversa entre Lula e o Papa, segundo a defesa do petista, será o chamado “lawfare”, que se refere ao uso estratégico do Direito para fins ilegítimos, como perseguição política. Os advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira, que defendem Lula, usam o termo para argumentar que o petista é perseguido pela Justiça.
PRIMEIRA VEZ
O depoimento será o primeiro do ex-presidente no âmbito da Operação Zelotes. No processo, Lula é acusado de editar uma medida provisória para favorecer empresas do setor automotivo em troca do recebimento de propina. Na audiência, o petista deve seguir a linha adotada por sua defesa, de que nunca recebeu benefícios ou praticou tráfico de influência para favorecer as montadoras. A defesa de Lula chegou a pedir que o depoimento fosse realizado por videoconferência, mas o ex-presidente foi convencido por seus advogados a comparecer presencialmente.

*”Retração da indústria – Com Brumadinho e crise argentina, setor cai 1,1%, a maior queda desde 2016”* - Depois de ensaiar uma recuperação por dois anos consecutivos, a indústria brasileira fechou 2019 com uma queda de 1,1%, segundo o IBGE. Trata-se do pior resultado desde 2016, quando o setor teve retração de 6,4%. O resultado reflete o impacto da lenta recuperação econômica do país e da crise na Argentina, além do efeito da queda da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), que matou mais de 250 pessoas. A indústria extrativa-mineral desabou 9,7%, o maior recuo desde o início da série histórica, em 2003. A crise da Argentina teve impacto direto nas exportações, principalmente de automóveis. Com isso, a indústria de transformação fechou o ano com alta de 0,2%, a menor desde 2016, quando a atividade havia recuado 6% em meio à recessão. Na avaliação de especialistas, o desempenho da indústria como um todo ficou abaixo das expectativas, mesmo considerando a ocorrência de fatores não planejados. Das 24 atividades pesquisadas pelo IBGE, 16 tiveram queda no ano, indicando que a retração foi disseminada.
— Para além do efeito negativo do setor extrativo, por causa de Brumadinho, há uma combinação de perdas importantes em diversos outros segmentos, principalmente os identificados com bens intermediários (que servem de insumo a outras indústrias) — diz André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
Desde o quarto trimestre de 2018, a indústria não sai do vermelho. No ano passado, o país voltou ao ritmo de produção de janeiro de 2009. Ainda assim, para Renata de Mello Franco, economista do Ibre/FGV, os números indicam que há um processo de retomada lenta da indústria brasileira, mas que requer o avanço de reformas para ganhar fôlego. Um dos sinais de alerta é o desempenho dos bens de capital, como máquinas e equipamentos, que fecharam o ano com queda de 0,4%. Em dezembro, a retração chegou a 5,9% na comparação com igual mês de 2018.
— Isso evidencia que estamos num processo de retomada lenta e gradual. O investimento ainda está reprimido e não observamos em 2019 uma melhora de bens de capital, o que é preocupante para 2020. Mostra que está difícil a indústria se recuperar sem estímulos, como uma reforma tributária —avalia.
O resultado de 2019 só não foi pior em razão da liberação de mais de R$ 40 bilhões em recursos do FGTS. Isso impulsionou a compra de bens de linha branca, como geladeiras. Com a injeção de recursos, os bens de consumo duráveis (móveis e eletrodomésticos) fecharam com alta de 2%, e os não duráveis, como alimentos, com avanço de 0,9%.
— O FGTS foi um evento importante para uma melhora da indústria no segundo semestre. É bem provável que tivéssemos uma queda maior no ano( se mele )— ressalta Ricardo Jaco mas si, economista e sócio da TCP Partners.
O encolhimento da indústria no ano passado foi acompanhado de queda no faturamento. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve recuo de 0,8% em tudo que o setor conseguiu faturar. Houve retração em horas trabalhadas, emprego, massa salarial real e rendimento médio. Essa combinação de sinais negativos tem impacto na economia, poisa indústria tradicionalmente oferece melhores salários.
CENÁRIO EXTERNO INCERTO
A utilização da capacidade instalada, ou seja, o nível de uso do parque fabril, ficou em 77,7% em dezembro, indicando possível limitação de novos investimentos no futuro.
—A indústria enfrenta dificuldades para manter um ritmo mais forte e sem interrupções de retomada da atividade — destaca Marcelo Azevedo, economista da CNI.
Para este ano, porém, a avaliação dos economistas é que há possibilidade de melhora. Isso porque, coma retração de 0,7% do setor em dezembro, na comparação com novembro, aquedada indústria no último trimestre foi menor que a esperada pelo mercado.
—É provável que a indústria feche o ano com alta de 2,9%, mas será uma recuperação mais pelo mercado doméstico do que pelo cenário externo, em um ano sem recursos do FGTS e com redução do desemprego —diz Jacomassi.
No entanto, para Renata, é preciso que o cenário externo fique mais favorável:
—O consumo interno é suficiente para a indústria andar de lado, mas, para crescer mais, precisamos do mercado externo. E ainda há o coronavírus, não sabemos o impacto.

*”Bancos já reveem projeção para PIB brasileiro”*
*”Crítica de Bolsonaro a ICMES é ‘gota d’água’ para governadores”*

 
 
 

CAPA – Manchete principal: *”Recorde de consignado para aposentado preocupa governo”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Outra década perdida”*: Odecênio terminado no ano passado foi o pior para a economia brasileira desde o início do século passado. No período iniciado em 2010 e terminado em 2019, o crescimento anual médio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de apenas 1,39%. É significativamente menor do que a média anual de 1,75% do decênio iniciado em 1990. “A década (sic) de 2010 foi a pior para o crescimento do PIB entre as 12 analisadas”, observa o autor do estudo, o economista Roberto Macedo, da Universidade de São Paulo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso. Macedo considera década o período iniciado com ano terminado em zero e encerrado com ano terminado em nove. Quando colocadas num gráfico, como na reportagem publicada pelo Estado, as médias decenais de crescimento anual do PIB deixam nítido o péssimo desempenho da economia brasileira no período 2010-19. Em 10 dos 12 decênios avaliados no estudo de Macedo o crescimento médio anual foi igual ou superior a 3%. Em quatro (os iniciados em 1920, 1950, 1960 e 1970) o crescimento foi igual ou superior a 6% ao ano. Nesse longo período de 120 anos, o Brasil conseguiu superar as principais barreiras do subdesenvolvimento, chegou a impressionar o restante do mundo com a rapidez de expansão de sua economia, viu a renda per capita crescer celeremente, com a consequente redução dos índices de pobreza e de deficiência de alimentação. Decerto problemas sociais e econômicos, alguns agudos, persistem e continuam a desafiar o poder público e a exigir providências eficazes e responsáveis das autoridades. A interrupção do ritmo expressivo de crescimento no último decênio resultou na piora de alguns importantes indicadores sociais, como nível de emprego e renda, no desânimo do setor produtivo, na retração dos investimentos e no aumento da desesperança de muitas famílias. Há um ônus social que levará tempo para ser resgatado. “Essa estagnação prejudicou muito as gerações recentes”, observou o economista Roberto Macedo. “Percebi que nas gerações passadas havia muita ascensão social, isto é, o status social dos filhos superava o dos pais. Hoje, isso se inverteu, com os filhos tendo dificuldade de até mesmo manter o status social dos pais.”
O fracasso dos planos de estabilização insistentemente tentados pelo governo José Sarney na segunda metade dos anos 1980 não foi suficiente para demover o governo do presidente Fernando Collor, eleito em 1989 e empossado em março de 1990, de tentar um novo grande lance contra a inflação descontrolada. O malogro também do plano de Collor fez o PIB encolher 4,3% em 1990, o que puxou a média da década 1981-1990 para 1,31%. Por isso esse período é conhecido como a década perdida. O resultado médio dessa década é muito próximo do apurado para o decênio 2010-2019. Os problemas dos últimos dez anos são a herança maldita deixada pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Eleita em 2010 e reeleita em 2014, Dilma ficou na Presidência durante pouco mais de cinco anos. Tantos foram seus erros políticos e desmandos administrativo-financeiros que teve seu mandato cassado no dia 31 de agosto de 2016. O mandato foi concluído pelo vice-presidente eleito em sua chapa, Michel Temer. Já se passaram mais de três anos desde o afastamento de Dilma, mas o Brasil ainda não se recuperou do desastre causado por sua política econômica, e que teve como pior momento a recessão que se iniciou no fim de 2014 e se estendeu até o início de 2017. O pífio crescimento do PIB de 1,1% em 2017 e em 2018, e que deve ter se repetido em 2019 – e contribuiu de maneira decisiva para o mau desempenho entre 2010 e 2019 –, mostra como é difícil para o País superar as consequências da aventura lulopetista. Há sinais animadores no horizonte, mas ainda há muito a consertar para estabelecer as bases para o crescimento mais rápido e consistente.

*”Governo paga pensão a 52 mil filhas solteiras”* - O pagamento de pensão para filhas solteiras não é exclusividade do Congresso e dos militares. No Executivo, pelo menos 52 mil mulheres recebem o benefício porque não se casaram “no papel” e porque seus pais, todos civis, trabalharam no governo federal antes de 1990. Documentos do Ministério da Economia analisados pelo Estado mostram que há uma pensionista que recebeu R$ 3 mil em dezembro passado, mas R$ 233,4 mil em novembro. A “bolsa solteira” da União foi criada por uma lei de 1958, já revogada, com a justificativa de que as mulheres não poderiam se sustentar sem pai ou marido. O benefício custou R$ 630,5 milhões nos últimos dois meses de 2019 – R$ 418,1 milhões em novembro e R$ 212,4 milhões em dezembro. A diferença se dá por causa das gratificações natalinas incluídas na folha do 11.º mês. Os valores podem incluir decisões judiciais e retroativos. Não foram divulgados os dados do ano inteiro. As informações de novembro e dezembro só foram tornadas públicas após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que acolheu denúncia do site Fiquem Sabendo. Questionado sobre valores acima do teto do funcionalismo (R$ 39 mil), o Ministério da Economia informou que “algumas rubricas são pagas esporadicamente e não entram no cálculo do teto constitucional” – entre elas, décimo terceiro e pagamentos retroativos.
No caso da pensionista que recebeu R$ 233 mil em novembro, técnicos da pasta informaram que R$ 6,1 mil diziam respeito à pensão e ao décimo terceiro. O restante foram “pagamentos de atrasados”, segundo o ministério. Em alguns casos, a falta de cadastro suspende temporariamente os benefícios. Quando os documentos são atualizados, a mulher recebe, de uma vez, todos os atrasados. A reportagem localizou a advogada de uma pensionista que recebeu R$ 81 mil em novembro e R$ 41 mil em dezembro, mas ela disse que não comentaria o assunto. No Executivo, a maioria das beneficiadas é filha de ex-servidores ligados ao Ministério da Infraestrutura – 19.931 pensões. A justificativa é que a pasta reuniu dezenas de órgãos federais de transporte já extintos, como o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que deixou de existir em 2001, e a Rede Ferroviária Federal, encerrada em 1999. O levantamento do Estado nas folhas de pagamento de órgãos da União considerou apenas mulheres ligadas a órgãos federais civis, excluídos, portanto, Forças Armadas e Ministério da Defesa. Pensionistas de Estados extintos, como o da Guanabara, também não foram incluídas na lista.
Congresso. Benefício semelhante também é garantido até o fim da vida às filhas solteiras de ex-parlamentares e de ex-servidores do Congresso que não se casam ou não têm emprego público. Em 19 de janeiro, o Estado revelou que a folha de pagamento do Legislativo tem 194 mulheres, com pensões de até R$ 35 mil por mês. Um aposentado do INSS, por exemplo, ganha, no máximo, R$ 6.101. No caso dos parlamentares, bastava ser eleito para um mandato para ter direito ao pagamento para suas filhas solteiras. A lei foi revogada em 1990, mas quem adquiriu o direito continua recebendo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou o pagamento da pensão como “absurdo” e defendeu o fim do que chamou de “solteiragate”. Maia deve apresentar uma ação ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o tema volte a ser debatido pela Corte. Denúncias de fraudes não são raras. Há casos em que as mulheres se casam ou constituem união estável, mas não notificam os órgãos públicos sobre a mudança no estado civil. Assim, continuam recebendo a pensão. Na Câmara, como mostrou o Estado, uma delas chegou a ser indiciada por estelionato e se tornou alvo do Ministério Público Federal. O TCU, em 2016, alterou a interpretação da lei sexagenária e exigiu o cumprimento pelas beneficiárias de critérios mais rígidos para a manutenção dos pagamentos. Passou a ser necessário, por exemplo, comprovar que realmente dependiam da verba. Pensões acabaram suspensas administrativamente em diversos órgãos. Insatisfeitas, as solteiras recorreram ao Supremo, que as desobrigou novamente de comprovar a necessidade da pensão.
Debate. O pagamento da pensão 30 anos depois da revogação da lei divide opiniões. Professor de gestão pública e auditor do Tribunal de Contas de Pernambuco, João Eudes Bezerra Filho afirmou que manter um benefício criado há 62 anos é questionável do ponto de vista moral. “O impacto é muito negativo, não só pelo valor de milhões de reais por ano, mas também moralmente. O governo deveria ir à Justiça pedir para que STF interceda, buscando reduzir prejuízos”, disse. Secretário-geral do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, o advogado Diego Cherulli foi responsável por uma parcela das ações que chegou ao STF contestando a determinação do TCU. Ele reconheceu que pagar pensões a filhas solteiras de ex-funcionários não condiz com o atual momento do País. Por outro lado, defendeu ser necessário respeitar “o direito adquirido”, sob pena de comprometer planejamentos pessoais e de gerar injustiças. “É um privilégio, de fato. Mas não podemos desconsiderar o direito adquirido e o planejamento das pessoas. A pessoa se planejou para receber, durante a vida toda, R$ 15 mil, R$ 20 mil. Entendo que, para quem já recebe, é devida a manutenção”, afirmou o advogado.

*”TJ-RJ mantém quebra de sigilo de Flávio”*
*”Sob pressão, Onyx demite mais dois auxiliares”*
*”Inquérito da PF vai investigar chefe da Secom”*
*”Lula quer adiar interrogatório para ver papa”*

*”Covas atrai 5 partidos e contrata marqueteiro”*
*”PT faz pressão para Haddad disputar prefeitura de novo”*

*”Em São Paulo, seis conflitos por água a cada dia”* - Para encontrar água, produtores rurais, companhias de abastecimento e fábricas do Estado de São Paulo precisam cavar cada vez mais fundo. O uso descontrolado dos mananciais, sem fiscalização do poder público, fez aparecer o fenômeno das “cidades sem rio”. As delegacias paulistas registram uma média diária de seis casos de disputa por água. Há dez anos, porém, esse índice era próximo de zero. Dados inéditos do Departamento de Águas e Energia Elétrica revelam que os conflitos passaram de 134, em 2009, para 1.097 em 2018, aumento de 718% em dez anos. Em uma década, o Estado de São Paulo registrou 8.974 casos de disputa por água. São notificações de infrações em que usuários do manancial tentam burlar o sistema de captação para retirar mais água do que o permitido. Esses números não levam em conta as ocorrências de furto de água, ameaças e casos de construções irregulares de barragens e desvios de rios registrados pela Polícia Militar, por meio do policiamento ambiental – 2.942 ocorrências, nos últimos três anos. Somados os números da Polícia Militar com os do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), chegaríamos a 7.017 ocorrências, apenas nos últimos três anos, uma média de 6,4 conflitos por dia, o que põe São Paulo entre as regiões com maiores focos de tensão do País.
Em muitos casos, os conflitos por causa de água se travam em regiões onde nem mesmo existem rios. As águas do solo já foram todas sugadas pelas bombas de irrigação e a briga se dá, agora, pelo líquido do subterrâneo, dos aquíferos. Na principal rua de Jales, município paulista de 50 mil habitantes, funcionam três perfuradoras. O agricultor Ednaldo Eder Zambom, 47 anos, lembra que até pouco tempo atrás havia mais água nos rios e riachos da região. O córrego Matãozinho foi tragado pela irrigação e pela abertura de poços artesianos de grande profundidade. “Agora, a água nossa aqui é tudo de poço. Tem um córrego lá embaixo, mas não tem água suficiente. A água vai indo cada vez mais embora”, disse. Famílias vizinhas desistiram da agricultura. “Falta estímulo.” Um estudo da Agência Nacional de Águas obtido pelo Estado destaca que, em São Paulo, o Sistema Cantareira foi abalado pela crise hídrica ocorrida em 2014 e 2015. “Houve uma série de conflitos internos no Estado, envolvendo o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, na bacia do Alto Tietê, e da Região Metropolitana de Campinas, na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.” Os dados do Daee reforçam o que sustenta o relatório. Do início de 2013 para o fim de 2015, ápice da crise, o número de infrações envolvendo disputa por água no Estado saltou de 260 para 1.874.
Tocantins, um rio que deixou de correr
Um dos rios do cerrado que mais fascinaram antigos naturalistas pela variedade de plantas e animais, o Tocantins deixou de correr em muitos trechos. O curso foi afetado pelas hidrelétricas construídas nos governos Lula e Dilma Rousseff. O uso de suas águas para mover turbinas impactou o fluxo. Das cabeceiras, no interior de Goiás, às grandes usinas no Tocantins, a reportagem registrou histórias de ribeirinhos que foram deslocados das margens do rio para áreas sem acesso à água. A Vila Retiro, no município de São Salvador do Tocantins, uma comunidade de pescadores e pequenos agricultores nas proximidades do Tocantins, foi afetada em 2006 pela construção de uma barragem para geração de energia. Centenas de propriedades rurais foram alagadas. A obra da Usina Hidrelétrica Peixe Angical represou o Tocantins na altura de Retiro. Após o início de sua operação, os moradores foram impedidos de tocar na água. O lago é vigiado por seguranças da usina e policiais militares. Os sitiantes, por sua vez, reclamam da dificuldade de vencer a burocracia da outorga da Agência Nacional de Águas (ANA). “Antes, tinha mais gente, fartura e roça. Hoje, Retiro é uma vila fantasma. Os mais novos foram para Goiânia. A vila não tem nada para oferecer”, disse o comerciante Olício Tavares, 55 anos. “Fizeram um assentamento, mas à água o povo não teve mais acesso.” Ele contou que, antes de a água subir, a vila tinha 800 moradores. Com a cheia, só 300 permaneceram. “Ficou apenas o pessoal que vive de Bolsa Família. De produção não tem como viver.” O agricultor Teodoro Conceição dos Santos, 74 anos, disse que levou menos de dois anos para o córrego Mato Seco “desaparecer do mapa”. “Agora só se tem água nos poços e nas cisternas abastecidas pelos pipas”, afirmou ele, em uma referência ao caminhão usado para o abastecimento. “O pipa aparece uma semana depois que a água acabou e o povo já está com sede, mesmo tendo esse lago imenso aqui do lado.”
Manoel Araujo dos Santos, de 84 anos, viu sua propriedade ser completamente alagada pelas águas da usina. Em 2006, ele recebeu uma indenização pela terra que, disse, não deu para construir uma casa. Chefe de uma família de oito pessoas, deixou de ser agricultor para viver de auxílio do governo. “Com o decorrer do ano, o poço vai secando e afundando cada vez mais.” Procurada pelo Estado, a Agência Nacional de Águas negou que esteja dificultando as autorizações, responsabilizou a hidrelétrica e apontou problemas agrários na região. “Não há qualquer restrição de parte da ANA à emissão de outorgas para captação de água no reservatório”, disse a agência. “A água ali armazenada é um bem público, portanto não pertence à hidrelétrica. É possível que haja alguma confusão sobre a propriedade, áreas lindeiras ao reservatório (...) Um conflito fundiário, e não de uso de água.” Concessionária da Usina Hidrelétrica Peixe Angical, a Enerpeixe afirmou que as famílias interessadas em retirar água do Tocantins devem procurar a ANA. “A companhia acrescentou que foram desenvolvidos vários projetos agrícolas com as 97 famílias ribeirinhas afetadas pela formação do reservatório, realocadas nos seis projetos de reassentamento rural implantados pela empresa”, ressaltou a concessionária.
Ofaiés estão vivos, mas longe da água
Os índios ofaiés-xavantes, antigos moradores das margens do Rio Paraná, região onde hoje é Mato Grosso do Sul, vivem agora a 40 quilômetros das águas. O governo retirou a aldeia de perto do curso, em 1997, para a construção da Usina Hidrelétrica Porto Primavera, atual Engenheiro Sérgio Motta. Mas o lago formado não atingiu o lugar onde ficavam suas malocas. Crianças acompanharam com atenção e desconfiança a chegada da reportagem à aldeia, em Brasilândia (MS). Os homens disputavam um campeonato de bocha, um grupo de adolescentes escutava funk e meninos e meninas jogavam futebol com uma bola de couro murcha. O professor ofaié Silvano de Moraes, de 30 anos, coordenador de educação indígena, contou que a aldeia sempre considerou o Rio Paraná sua casa. “Eu nasci lá, num lugar abundante de água. Hoje, se você joga uma criança dentro da água é igual a lançar um machado sem cabo. Cai e afunda, pois não sabe nadar.” A resistência para voltar para perto das águas continua. “Nós brigamos sem armas. Nossa arma hoje é o lápis e a caneta. Temos que estudar a Constituição de 1988.”

*”Sem vencedor claro, prévia democrata em Iowa indica resultado ruim de Biden”* - O resultado parcial das prévias em Iowa, divulgado ontem, surpreendeu ao mostrar o moderado Pete Buttigieg na liderança, com uma estreita margem à frente do senador Bernie Sanders. O anúncio preliminar indicou um resultado ruim do ex-vice-presidente Joe Biden – um quarto lugar – e não escondeu o caos da noite anterior, quando a direção estadual democrata admitiu “inconsistências” na tabulação dos resultados. Com problemas técnicos na apuração, os democratas mergulharam em uma crise interna já na largada da campanha presidencial. Pela primeira vez, o partido demorou quase 24 horas para começar a liberar as informações. Os resultados incompletos não aliviaram a tensão das campanhas eleitorais. Em conversa por telefone com representantes partidários, o diretor do Partido Democrata em Iowa, Troy Price, rejeitou dar um cronograma completo da divulgação dos resultados e tampouco respondeu se 100% dos votos serão conhecidos em questão de dias ou semanas. Os partidos fazem prévias nos Estados para indicar o nome que desejam ver como candidato na eleição presidencial. Iowa é o primeiro Estado a votar. Quem larga bem em geral é beneficiado por um efeito cascata. Neste ano, o cenário embolado já jogaria naturalmente atenção para as próximas três disputas: New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul. A falta de divulgação de resultados no tempo esperado acrescentou novo componente de instabilidade. O presidente Donald Trump aproveitou a confusão para ridicularizar os democratas e declarar-se como o grande vencedor da noite. A desorganização pode levar o Estado, que tem menos de 1% da população do país, mas um peso político importante, a perder a prerrogativa de ser o primeiro a definir as indicações.
Desempenho. Com 62% dos votos apurados, Buttigieg, exprefeito de South Bend, em Indiana, tinha 26,9% dos votos. Até ontem, ele aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto em Iowa, atrás de Sanders e de Biden – que estavam empatados na primeira posição. Segundo os resultados preliminares, Sanders tinha 25,1% dos votos. Se o placar final fosse esse, cada um dos dois receberia o mesmo número de delegados na convenção partidária em julho. O voto dos eleitores nas prévias define a quantidade de delegados que cada candidato terá direito na convenção nacional. Os candidatos passam a ter um número de representantes proporcional ao apoio que tiveram entre os eleitores nos Estados – exceto nos Estados em que o vencedor leva todos os delegados. Quem obtiver a maioria dos 3.979 votos do partido na reunião da sigla é o nomeado candidato. Em Iowa, estão em jogo 41 delegados partidários. Na prática, portanto, Sanders e Buttigieg estariam empatados. Segundo os resultados preliminares, Biden aparece em quarto lugar, com 15,6% dos votos, atrás de Elizabeth Warren, com 18,3%. A senadora Amy Klobuchar tinha 12,6%, Andrew Yang, 1,1%, e Tom Steyer, 0,3%. Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, não fez campanha e não participou da votação.
A campanha de Sanders ainda calcula que ele saia vitorioso no Estado, quatro anos após receber 49,6% dos votos contra 49,9% de Hillary Clinton. A surpresa em torno de Buttigieg não está em sua liderança, já que o resultado final pode mudar. A vitória parcial do prefeito é aparecer com uma folgada vantagem sobre Biden. Os dois disputam a mesma faixa do eleitorado: democratas centristas que acreditam que um candidato moderado é o mais apto a vencer Trump em novembro. Com 37 anos, Buttigieg é o mais novo entre os mais bem colocados. Ele foi prefeito de uma pequena cidade do Estado de Indiana, é religioso e o primeiro candidato à Casa Branca declaradamente gay. Diferentemente de Biden, ele tem baixa rejeição entre jovens progressistas, apoiadores de Warren e de Sanders.

*”Trump destaca ‘grande retorno’ dos EUA”*
*”Juiz que indiciou Cristina por 7 acusações morre em Buenos Aires”*
*”Greve contra Macron enche Paris de lixo”*

*”MEC quer teste para medir rapidez na leitura de crianças e mudar livro didático”* - O Ministério da Educação (MEC) quer lançar uma avaliação ainda este ano para medir quantas palavras por minuto são lidas pelas crianças do 2.º ano do ensino fundamental (8 anos). O teste está sendo chamado de Avaliação Nacional de Fluência e faz parte de um novo programa de alfabetização. O ‘Estado’ teve acesso ao texto deste programa, que também menciona reformular a escolha de livros didáticos e premiar professores por desempenho ao ensinar a ler e escrever. Segundo o texto, a “fluência em leitura é um dos mais fortes indicadores de sucesso na alfabetização”. A prova deve medir se a criança lê com “bom ritmo, precisão e velocidade”. Testes de fluência são usados por redes de ensino ou educadores que acreditam que a leitura é uma decodificação e são mais ligados ao método fônico de alfabetização, em que há ênfase nos sons das letras. Outros grupos criticam esse tipo de avaliação por considerarem uma pressão desnecessária à criança. Também acreditam que a velocidade não demonstra que ela compreende o que lê.
A ideia é fazer a prova por meio de uma gravação da leitura da criança, no fim de 2020. Essa gravação seria enviada a uma entidade, ligada ao MEC, que faria a medição e daria o resultado. Ela ocorreria em redes estaduais e municipais que aderirem ao programa, batizado de Tempo de Aprender. Segundo fontes, o MEC pretende lançálo antes do carnaval. A cidade de Sobral (CE) já faz testes do tipo com os alunos desde o 1.º ano. Já escolas particulares de elite de São Paulo não usam avaliações de fluência. “É discutível dizer que leitores fluentes compreendem melhor o que leem, especialmente quando se fala em crianças”, diz a especialista em alfabetização e professora da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello. “Às vezes um leitor que hesita, gagueja, demora, que retoma a leitura, faz isso em função de procedimentos internos que podem ser muito mais inteligentes e eficientes para a construção do significado do que a criança que decodifica super bem”, diz Silvia. Já o Instituto Alfa e Beto, que pesquisa o tema e produz materiais sobre alfabetização, defende esse tipo de teste. Em seu site afirma-se que a fluência é a “ponte entre o reconhecimento de palavras e a compreensão de um texto”. Isso porque, segundo pesquisas citadas, o reconhecimento automático permite que o cérebro concentre atenção na compreensão.
Estados. O Estado apurou que entidades que reúnem secretários de educação não foram consultadas para a elaboração do programa. Mesmo assim, os nomes da União Nacional dos Dirigentes Municipais em Educação (Undime) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) fazem parte da versão à qual o Estado teve acesso. Segundo o presidente da Undime, Luiz Miguel Garcia, os secretários defendem política que leve em conta a diversidade e não apenas focada em um método. O vice-presidente do Consed e secretário de Pernambuco, Fred Amâncio, disse que não conhecia o documento. “Temos a preocupação de que não desarticule programas de alfabetização que já existem e o andamento de parcerias entre Estados e municípios.” Hoje, bons resultados em alfabetização vêm de Estados que se articularam com os municípios. O documento do programa fala ainda em “formação prática” de professores, sem detalhar como seria feita, e não cita a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de 2017 que é referência para currículos das escolas. A BNCC considera que crianças aprendem de diferentes maneiras e não indica só um método para alfabetizar.
O Tempo de Aprender também indica que premiará professores que melhor alfabetizarem, mas não cita recursos. E sugere mudar o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que avalia os livros oferecidos às escolas. A ideia é escolher materiais alinhados com a vertente que o MEC pretende seguir, excluindo outras, como a construtivista. Em dezembro, o governo Bolsonaro aprovou decreto que permite que a Secretaria de Alfabetização produza o próprio material, independentemente do PNLD. Procurado, o MEC afirmou que não comentaria o documento mencionado pelo Estado e que o programa de alfabetização será lançado em breve, conforme cronograma já previsto.
+++ A notícia mostra como o governo federal opera sem acordo com os demais entes da federação. O que faz parecer que os momentos de convergência são do acaso.

*”Governo prevê distribuir remédio no SUS sem análise da Anvisa”* - O governo Jair Bolsonaro quer reduzir entraves para distribuir a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) medicamentos sem registro sanitário concedido pelo Brasil. A proposta é permitir que a importação dos produtos seja autorizada automaticamente, eliminando análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Integrantes da cúpula do Ministério da Saúde afirmam, reservadamente, que a mudança evitaria atrasos com burocracias da Anvisa para importações urgentes. Já ex-diretores da agência e a indústria farmacêutica no Brasil, críticos à sugestão, dizem que uma nova regra abriria brecha para o governo driblar preços de medicamentos ofertados no País, mas sob risco aos pacientes. A mudança valeria apenas para compras do governo federal em casos excepcionais, como em situação de emergência de saúde pública ou falta do produto no mercado local. A condição é que o Ministério da Saúde se responsabilize por todas as etapas do processo, tarefa hoje compartilhada com a Anvisa.
Pela regra atual, o ministério pede autorização da agência para a importação de medicamento que não foi avaliado ainda no Brasil. A Anvisa analisa documentos e se manifesta em 10 dias. O prazo cai para 48 horas em casos de “emergência de saúde pública de importância nacional ou internacional”. Os próprios diretores da Anvisa sugeriram mudar a resolução da agência sobre importação, a RDC 203/2017. Uma consulta pública de 15 dias será feita sobre a proposta, até 18 de fevereiro, período mais curto do que o normal. O órgão, na sequência, vai analisar sugestões ao texto e votar em reunião de diretoria colegiada uma proposta final. A resolução que o governo deseja alterar já serviu como barreira para impedir a distribuição de medicamentos de empresas contratadas pelo governo que não apresentavam as certificações sanitárias exigidas.
O Estado apurou que o apoio de parte dos gestores da Anvisa à mudança passa pelo interesse em agradar o governo, mirando três vagas de diretores do órgão que serão preenchidas por Bolsonaro este ano. A mudança de posição da Anvisa sobre a própria regra coincide com a ascensão do médico e contra-almirante Antonio Barra Torres, que tornou-se em dezembro presidente interino do órgão e apresentou a sugestão. Amigo de Bolsonaro, ele foi indicado em janeiro a presidente efetivo, mas a confirmação do cargo depende de aprovação no Senado. Em nota, a Anvisa afirma que “é necessário buscar respostas prontas” quando há uma emergência por falta de medicamentos. Segundo a agência, a proposta é que seja do Ministério da Saúde a “responsabilidade objetiva”, a “definição da situação de necessidade” e “o atesto da qualidade dos produtos a serem importados”. O Ministério da Saúde não se manifestou.

*”Governo zera verba de programa contra violência doméstica”* - O principal programa federal de combate à violência contra a mulher ficou sem um único centavo no ano passado. A Casa da Mulher Brasileira tinha como objetivo inicial construir ao menos uma unidade de atendimento integrado por Estado para aquelas que sofrem com agressões físicas e psicológicas. Lançado na gestão de Dilma Rousseff, em 2015, o programa apoia mulheres alvo de violência causada por desconhecidos, companheiros ou parentes. Até agora, porém, só cinco unidades estão funcionando. Em São Paulo, a estrutura local precisou de investimento privado para que a obra fosse concluída. Embora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, já tenha admitido que sua pasta não tem condição de manter e custear o programa, a justificativa para a paralisação total em 2019 foi a falta de acordo com a Caixa Econômica Federal para erguer novas unidades. O contrato com o banco só foi assinado em dezembro de 2019. No mesmo mês, a pasta empenhou cerca de R$ 20 milhões do orçamento para a Casa da Mulher Brasileira, mas para ser liberado a partir deste ano. O empenho é a primeira etapa para que o recurso seja efetivamente aplicado.
Para este ano, o ministério promete uma “reformulação” da Casa da Mulher. A ideia é mudar o nome do programa e leva-lo a 25 municípios a um custo mais baixo, além da alternativa de usar espaços cedidos ou locados, em vez de construir um novo prédio. Entre os locais citados, entretanto, aparece Brasília, que já tem uma unidade há cinco anos, fechada desde 2018 por necessidade de reparos. O Distrito Federal promete que a reforma será concluída no primeiro semestre deste ano. O abandono do programa evidencia a queda drástica de recursos para políticas públicas voltadas para mulheres nos últimos anos. Entre 2015 e 2019, o orçamento da Secretaria da Mulher, órgão do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi reduzido de R$ 119 milhões para R$ 5,3 milhões. Levantamento feito pelo Estado aponta que, no mesmo período, os pagamentos para atendimento às mulheres em situação de violência recuaram de R$ 34,7 milhões para R$ 194,7 mil. No Brasil, uma mulher é agredida a cada quatro minutos, segundo dados do Ministério da Saúde. As taxas de feminicídio também estão em alta nos últimos anos, mas, na política, o tema não ganha prioridade. Ao Estado, Damares reclamou que o orçamento do seu ministério é “pequetitico”.
A pasta é uma das que menos receberam recursos em 2019 – foram R$ 240 milhões executados (de um total de cerca de R$ 500 milhões previstos) – atrás apenas do Ministério do Turismo. Apesar disso, ela justifica que o seu ministério não é “finalístico”, e sim de “articulação”, por isso depende da destinação de emendas parlamentares e de parcerias público-privadas. “Manter a Casa da Mulher (Brasileira) pelo ministério é impossível”, disse ela, em abril, em audiência na Câmara dos Deputados. “Temos de encontrar uma alternativa, mas o ministério não tem como custear.” No combate à violência contra a mulher, o foco de maior investimento da pasta no último ano foi aperfeiçoar o atendimento às denúncias, com a integração do Disque 100 e do Disque 180. Para este ano, a pasta depende da negociação com parlamentares para cumprir promessas e fazer pagamentos. Secretária nacional de Políticas para Mulheres, Cristiane Britto afirmou que a pasta tem dificuldade para convencer congressistas a destinarem a verba. Normalmente, emendas feitas pelos parlamentares ao ministério não chegam a 1% do total da verba disponível em cada ano. Para 2020, só 0,8% das emendas apresentadas foram para a pasta. No ano anterior, a quantia representou 0,5%.
Repercussão. A revelação pelo estadao.com.br da não destinação dos recursos para o programa repercutiu ontem no Congresso. A deputada Tábata Amaral (PDT-SP) questionou a colocação de temas ligados às mulheres na ordem de prioridades do governo Jair Bolsonaro. “O governo gastou zero reais com o principal programa de combate à violência contra a mulher. A vida de 52% da população não é prioridade?”, indagou a parlamentar em rede social. Ela destacou ainda que “a violência só aumenta e o Brasil já é o quinto país que mais mata mulheres no mundo”. Já a comissão da Câmara destinada a acompanhar casos de violência doméstica e feminicídio convocou uma reunião extraordinária para hoje.
+++ A reportagem apresenta mais um exemplo de como o atual governo não se preocupa com a qualidade de vida de cidadãs e cidadãos.

*”Consignado de aposentados é recorde e governo tenta evitar prática abusiva”* - Toda vez que o aposentado Fábio de Melo Campos, 82 anos, vai receber sua aposentadoria no quarto dia útil de cada mês, já sabe que a palavra mais dita por ele no caminho até chegar à agência bancária da Caixa será “não”. A recusa às várias propostas de consignado que recebe no percurso de representantes de bancos concorrentes e do próprio banco estatal é feita não só pessoalmente, mas também por telefone e por correspondência. Campos já até pegou um consignado de R$ 8 mil, há seis anos, para pagar uma dívida bancária mais cara, mas agora persiste em resistir às ofertas de crédito. “O que ganho já não é muita coisa, se tiver um desconto do empréstimo, não consigo pagar minhas contas, meus remédios”, afirma.
Ele é apenas um exemplo do assédio de bancos a essa clientela, que levou as dívidas de aposentados e pensionistas do INSS no crédito consignado a bater recorde em 2019. Ao todo, foram R$ 138,7 bilhões, 11% de aumento em relação ao ano anterior. O governo tenta agora evitar que a prática seja usada de forma abusiva e trabalha para diminuir o custo desse tipo de empréstimo no cenário atual de queda dos juros básicos. O saldo da carteira de crédito cresceu R$ 13,5 bilhões ao longo do ano passado. Como o desconto é feito direto nas aposentadorias e pensões, o patamar dos calotes acima de 90 dias é um dos mais baixos do mercado -fechou 2,6% em 2019. O problema está sendo discutido pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e pelo Banco Central, segundo apurou o Estadão/Broadcast. No início de janeiro, entrou em vigor um modelo de autorregulação dos bancos. Novas medidas estão em estudo para fomentar mais a competição e reduzir os juros de modalidade de crédito, que é uma das mais baratas do mercado, mas continua com custo elevado no cenário de queda da taxa básica de juros, hoje em 4,5% ao ano.
Em 2019, a taxa média dos consignados para os aposentados do INSS fechou em 22,2%, com queda de 3,1 ponto porcentual. Para os servidores públicos, a taxa do consignado fechou o ano passado em 18,2%, de acordo com dados do Banco Central. Um grupo de trabalho interministerial foi criado no ano passado, com a participação dos ministérios da Justiça e da Economia, da Dataprev, do INSS e do BC, para discutir propostas para aperfeiçoar o consignado. Uma auditoria foi contratada para descobrir de onde vazam os dados dos segurados do INSS que vão se aposentar. O vazamento é um problema comum e ocorre antes mesmo de o segurado se aposentar, quando já começa o assédio dos bancos para ofertar empréstimos. Outros órgãos do Ministério da Economia têm buscado estratégias para reduzir o custo de empréstimos consignados. Em novembro do ano passado, integrantes da Subsecretaria de Competitividade e Concorrência em Inovação e Serviços foram ao Rio de Janeiro conhecer uma iniciativa da Marinha, que disponibiliza a seus servidores um “leilão reverso” de consignado, em que os bancos têm 24 horas a partir da contratação do crédito para oferecer lances com juros ainda menores e baratear a parcela do empréstimo.
Superendividados. O secretário Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, Luciano Timm, disse ao Estadão/Broadcast que vai intensificar a fiscalização das regras de autorregulação acordadas com a Federação Nacional dos Bancos (Febraban). Segundo ele, a concessão irregular de empréstimo consignado a aposentados é um dos fatores que potencializa o superendividamento dos idosos no Brasil. Um acordo já foi assinado entre o Ministério da Justiça e o INSS para ampliar a fiscalização dos abusos. Esse é um dos temas de maior reclamação no órgão. Procurada, a Febraban afirmou que ela e os seus associados não endossam, pelo contrário, combatem práticas que estejam em desacordo com a legislação vigente.

*”Eletrobrás gasta com ‘carvão fantasma’”* - A estatal Eletrobrás, que até 2017 gerenciava a compra de carvão mineral usado por usinas para geração de energia, não conseguiu demonstrar para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) onde gastou R$ 205 milhões, utilizados, em princípio, para a compra da matéria-prima. Esse dinheiro é pago mensalmente por todos os consumidores de energia do País, por meio de um encargo incluído na conta de luz. Até abril de 2017, a Eletrobrás era a responsável por receber esses recursos usados para financiar a compra de carvão mineral e a geração de energia de usinas térmicas. Em maio daquele ano, essa função passou para a Câmara de Comércio de Energia Elétrica (CCEE).
A Aneel, porém, decidiu fazer uma varredura nas transações com carvão mineral feitas pela Eletrobrás entre janeiro de 2011 e abril de 2017. O objetivo era verificar os estoques de carvão quando a estatal parou de administrar as operações. O levantamento, concluído em dezembro do ano passado, após receber milhares de documentações enviadas pela Eletrobrás, apontou que mais de R$ 205 milhões – em valores da época – foram usados para bancar um “carvão fantasma”, ou seja, pagos para a geração de energia que a estatal não conseguiu comprovar. “Considerando que os valores dos combustíveis referentes a um determinado mês deveriam ter sido pagos até o mês seguinte, a confrontação dos valores, ‘o que deveria ter sido pago’ versus ‘o que foi efetivamente pago’, resultou numa diferença de R$ 205.426.819,22, pago a maior ao agente”, conclui o levantamento técnico da agência. Os dados apurados apontam que, entre 2011 e 2017, a Eletrobrás conseguiu comprovar a destinação de um total de R$ 4,2 bilhões pagos pelo consumidor de energia. No mesmo período, porém, foi constatado que os repasses que a estatal fez às donas de usinas térmicas a carvão chegaram a um total de R$ 4,4 bilhões. A diferença paga a mais, se corrigida pela inflação, ultrapassa mais de R$ 227 milhões. Ao concluir sua análise, a agência declarou que encontrou diversas “inconsistências” na gestão dos repasses para compra de carvão.
Orçamento. Anualmente, a Aneel estabelece um orçamento para compra de carvão mineral, custo que passa a ser cobrado do consumidor na conta de luz. A análise técnica pede que essa diferença de valor seja abatida dos custos que serão pagos pelo cidadão na conta de luz neste ano. Questionada sobre o assunto pela reportagem, por meio de nota, a Eletrobrás se limitou a declarar que “se manifestará sobre o tema por meio de comunicado ao mercado”. A Aneel limitou-se a declarar que “a fiscalização é matéria ainda em fase de instrução pela área técnica responsável” e ainda não há conclusão do caso pela área de fiscalização ou pela diretoria da agência.
Estatal contesta. Na semana passada, em resposta encaminhada à Aneel, o presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, sustentou que os valores indicados pela estatal estariam corretos. Hoje o Brasil tem 23 usinas de geração por carvão mineral em atividade, as quais são responsáveis pela geração de 3.596 megawatts (MW). Trata-se de um volume considerável de energia, se comparado, por exemplo, com a energia média entregue pela maior hidrelétrica brasileira, a usina de Belo Monte, que produz 4.571 MW, na média anual. O carvão é uma das fontes mais poluentes e caras do setor elétrico. O governo mantém essas usinas em operação porque pode acioná-las, por exemplo, quando há pouca geração de energia pelas hidrelétricas, em decorrência da falta de chuvas. A compra do carvão está incluída no encargo setorial conhecido como Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). A Eletrobrás sempre foi alvo de críticas por sua gestão desse encargo, que hoje inclui uma série de outras funções, como a universalização do serviço de energia elétrica em todo território nacional (Programa Luz para Todos) e os custos para sistemas isolados, regiões que não estão conectadas ao sistema interligado nacional de transmissão de energia.

*”Senadores se rebelam contra governo na reforma tributária”* - De volta aos trabalhos legislativos, senadores fizeram questão de expor ontem insatisfação com o governo em torno da reforma tributária. A proposta foi anunciada como prioridade para 2020. Líderes do Senado, porém, se recusam a dar andamento ao tema até que o Executivo diga qual é sua proposta e sente na mesa para negociar. Além disso, descartam uma votação no primeiro semestre. O anúncio de uma comissão mista para discutir a proposta só aumentou a insatisfação. Senadores se sentiram desprestigiados na articulação feita pelos presidentes do Senado e da Câmara com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para debater o texto em um colegiado formado pelas duas Casas. A estratégia foi vista como um movimento para dar prioridade ao texto dos deputados, em detrimento daquele que tramita no Senado.
A comissão mista ainda não foi instalada e sequer teve os integrantes indicados. Líderes de bancadas no Senado dizem que só vão indicar os membros do colegiado se houver uma negociação com o governo e uma certeza de qual é a proposta do Executivo. “Enquanto isso não acontecer, o discurso é para a plateia”, disse o líder do MDB, Eduardo Braga (AM). Antes de o Congresso elaborar um texto, os senadores farão um convite ao ministro Paulo Guedes para uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. “Quero deixar aqui a pergunta: afinal de contas, qual é a reforma tributária?”, afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDBCE), durante sessão da comissão. “Não é tão simples aprovar uma reforma tributária, como se pode pensar a partir do que o presidente Rodrigo Maia disse querer aprovar em três meses”, disse o presidente da CAE, Omar Aziz (PSD-AM).
Um dos impasses é o impacto da reforma nos Estados e municípios. A perda eventual na arrecadação causa insatisfação entre os gestores públicos. Por outro lado, setores como o de serviço não querem passar a pagar tributos maiores. “Reforma tributária é algo que mexe com a sua base, onde você vive, com seu vizinho, com seu eleitor. Isso é uma coisa que precisa ser negociada com quem detém a maior parcela do recurso, a União”, disse Eduardo Braga. Na segunda-feira, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que o governo vai enviar sugestões à reforma tributária só após o Congresso elaborar um texto comum entre Câmara e Senado, o que ocorreria no fim de fevereiro. O movimento causou desconforto entre os senadores. “Não tem tributária. Ficam anunciado que vai ser votada, a sociedade fica cobrando e a gente fica constrangido”, disse Jereissati.

*”Após duas altas, indústria recua em 2019”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Vírus paralisa fábricas, mas no mercado clima é otimista”*

*”Dupla jornada de estudo e trabalho ganha força entre jovens brasileiros”* - Cresce no Brasil o número de jovens em idade universitária que estudam e trabalham ao mesmo tempo, particularmente entre aqueles que frequentam instituições de ensino privado. Para especialistas, a estagnação no número de vagas nas instituições superiores públicas e um mercado de trabalho ultracompetitivo, que exige cada vez mais formação dos jovens explicam por que uma maior parcela deles tem recorrido à dupla jornada para pagar por cursos superiores privados. Entre os jovens de 19 a 24 anos que estudam, o percentual daqueles que também trabalham subiu de 45,4% em 2016 para 48,3% em 2019, somando 2,6 milhões de estudantes que enfrentavam no ano passado uma dupla jornada, ou 144 mil a mais. No caso do jovens que estudam em instituições privadas, o percentual daqueles que também trabalham passou de 54,4% a 58,3% no mesmo intervalo de três anos, para um total de 1,7 milhão. Já no ensino público, a quantidade de jovens de 19 a 24 anos que estudam e trabalham é menor do que no ensino privado, tanto em termos percentuais, quanto em números absolutos. Eles eram 35,5% do total de estudantes em 2016, passando a 36,7% em 2019, num total de 924 mil no dado mais recente, segundo levantamento da consultoria IDados divulgado em primeira mão ao Valor. Com base em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o estudo compara os terceiros trimestres de cada ano - período que tem o microdado mais recente disponível.
“Enquanto o ensino básico é ofertado universalmente a todos os jovens, há um afunilamento no acesso às instituições superiores públicas”, diz Thaís Barcellos, pesquisadora da IDados. “O jovem que está estudando e trabalhando tem que ir então para uma instituição privada.” Esta também é a avaliação de Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). “Com o mercado de trabalho mais competitivo, os jovens precisam se qualificar mais”, afirma. O economista lembra ainda que as instituições públicas de ensino superior praticamente não têm aumentado suas vagas, apesar do crescimento do número de jovens aptos a cursar o ensino superior, devido à expansão do acesso ao ensino médio. “Acaba que os jovens então trabalham para pagar seus cursos privados”, afirma Duque. O menor percentual de alunos trabalhando está na faixa etária de 14 a 15 anos: 5,5% do total de alunos em 2019, sendo 2,2% dos matriculados em escolas privadas e 6,1% em escolas públicas. Formalmente, esses jovens só podem estar empregados como aprendizes. Mas, nessa faixa etária, há também parcela significativa de jovens que atuam como trabalhadores familiares auxiliares, ou seja, ajudando parentes sem remuneração.
O percentual de estudantes que trabalham sobe a 17,6% entre os jovens com idade de 16 a 18 anos, sendo 14,7% dos que estudam em escola privada e 18,1% daqueles que estudam em instituições públicas. “Comparando as redes de ensino, vemos que o percentual de alunos trabalhando que estudam em escolas públicas é maior até os 18 anos de idade. Dentre os alunos com idades entre 19 e 24 anos, e que trabalham, a situação se inverte”, observa a pesquisadora do IDados. Essa inversão de tendência pode reforçar a impressão de que os ricos são maioria no ensino superior público, relegando os mais pobres ao ensino privado. Mas a coisa não é bem assim, explica Adriano Senkevics, doutorando em educação pela USP e pesquisador visitante na Universidade de Toronto. Senkevics destaca que, na educação superior brasileira, o ensino privado é majoritário, com mais de 70% das matrículas. Então o ensino pago concentra o maior número de alunos, sejam mais ricos ou mais pobres. No entanto, os mais ricos têm perdido participação no total de alunos, tanto no ensino público, como no privado, devido ao avanço no acesso dos mais pobres, por meio de políticas como cotas, expansão das universidades públicas nos anos 2000 e interiorização de campi. Os 20% mais ricos eram 54% dos estudantes de universidades públicas em 2005, caindo a 36% em 2015. No ensino privado, essa participação foi de 67% a 37%.
Já os 40% mais pobres eram 8% do corpo discente das universidades públicas em 2005 e passaram a 23% em 2015. No setor privado, esse percentual foi de 3% a 16%. Ou seja, os mais pobres seguem subrepresentados no ensino superior, em ambos os tipos de ensino, mas proporcionalmente têm presença maior no setor público do que no privado. “Isso ajuda a desmistificar a ideia de que no setor público só tem rico, como se a presença dominante dos ricos também não existisse no setor privado”, diz Senkevics. Segundo o pesquisador, outro fator que ajuda a explicar o crescente percentual de jovens que estudam e trabalham nas universidades privadas é a expansão recente do ensino a distância, que já representa cerca de 25% das matrículas. Muitos jovens que interrompem sua formação após o ensino médio pela necessidade de trabalhar acabam voltando a estudar estudar por meio dessa modalidade, que é mais barata e mais compatível com a jornada de trabalho, diz. “O setor público, além de ser gratuito, dispõe mais do que o privado de apoio estudantil”, lembra ainda Senkevics. “São políticas de permanência e assistência que conseguem minimizar a necessidade de trabalho por jovens de menores condições socioeconômicas”, afirma. O especialista diz também que, pelo fato de o ensino público ser mais prestigiado, as famílias podem fazer esforço maior para que os jovens que conseguem acessá-lo concluam seus cursos e dediquem-se à sua formação. Daí também a menor evasão no setor público do que no privado.

*”Detergente paralisa abastecimento de água no Rio”*
*”Reino Unido convida Brasil para discutir relação comercial”* - Britânicos querem acordos com Brasil e outros países
*”Receita de dividendos triplica e ajuda melhora do primário”*
*”Resultado fiscal recorrente piora, aponta economista”*

*”Pacote para reduzir e extinguir subsídios é mantido sob sigilo”* - O governo apresentou ao Congresso Nacional um pacote de medidas destinadas a reduzir ou extinguir benefícios e incentivos de natureza tributária. O pacote está em um anexo da mensagem 718, enviada pelo presidente Jair Bolsonaro no fim do ano passado, recebeu o carimbo de “acesso restrito” e está protegido pelo “sigilo fiscal”. O objetivo das medidas é reduzir os gastos com benefícios tributários dos atuais 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2% do PIB no período de dez anos. O envio das medidas pelo presidente da República era uma exigência da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), válida para 2019 (lei 13.707/2018), e que o governo só cumpriu no último dia útil do ano passado. A mensagem 718 chegou ao Congresso no dia 30 de dezembro de 2019. Ela só foi despachada ontem para publicação no “Diário do Congresso Nacional”. Em exposição de motivos da mensagem 718, o ministro da Economia, Paulo Guedes, refere-se ao “Anexo de acesso restrito”, dizendo que ele “é um conjunto das minutas de proposições legislativas em estudo, acompanhadas das respectivas estimativas de impacto fiscal”. Fontes da área econômica ouvidas pelo Valor explicaram que o caráter sigiloso do pacote decorre do fato de que o governo enviou apenas minutas ao Congresso Nacional, que ainda não foram finalizadas. Portanto, ainda não podem ser consideradas projetos de lei.
O parágrafo 3º do artigo 21 da lei 13.707, no entanto, determina que o presidente da República encaminhe ao Congresso plano de revisão de despesas e receitas, inclusive de incentivos ou benefícios de natureza financeira, tributária ou creditícia, “acompanhado das correspondentes proposições legislativas”. A LDO, portanto, determinou o envio de proposições, e não de minutas de proposições. Em sua exposição de motivos, Guedes informa que o Tribunal de Contas da União (TCU) já questionou o governo a respeito da observância dos parágrafos 3º e 4º do artigo 21 da LDO válida para 2019. Em razão desse questionamento, Guedes disse que propostas de alteração legislativa específicas para determinados benefícios ou incentivos de natureza tributária, pendentes de análise pelos órgãos integrantes do Ministério da Economia, já foram formalmente comunicadas ao TCU.

*”Dataprev suspende por até 30 dias plano de demissão”* - Pressionada pela greve dos seus funcionários, a Dataprev suspendeu por até 30 dias o Programa de Adequação de Quadros (PAQs), que previa a demissão de funcionários em 20 Estados, com a possibilidade de acordo para a saída. Os trabalhadores da estatal de tecnologia responsável por fazer o processamento do pagamento de benefícios do INSS haviam paralisado suas atividades desde o dia 30 de janeiro. A greve é contra o PAQ, anunciado no início deste ano. A suspensão do programa foi acordada em audiência de mediação no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Os trabalhadores concordaram em interromper a paralisação pelo mesmo tempo enquanto continuam as negociações entre as duas partes. A estatal pretendia demitir 493 funcionários, 14,6% dos seus 3.060 servidores. Para eliminar um volume de R$ 93 milhões ao ano em despesas, a companhia vai fechar suas filiais em 20 Estados. Aos funcionários que seriam desligados, a direção da companhia ofereceu a opção de fazer um acordo no qual o trabalhador receberia alguns benefícios adicionais: 45% de multa rescisória (em vez dos usuais 40%), 12 meses de plano de saúde e 12 meses a mais de contribuição para o plano de previdência da estatal.
A adesão ao programa vinha sendo baixa. Ao fim do prazo original de adesão, 21 de janeiro, apenas 71 tinham aceitado. A presidente da Dataprev, Christiane Edington, disse na ocasião que esperava um crescimento nesse número por causa da adesão de funcionários que estavam em férias e que teriam um período adicional para aderir. O número mais recente é 77.

*”Conferência ambiental na China será evento-chave para a biodiversidade”* - Posições brasileiras para conferência na China em outubro são desconhecidas

*”Meta de recuperar florestas pode custar US$ 1,2 bi por ano”* - Estudo mostra que Cerrado tem situação mais delicada que Amazônia e Mata Atlântica

*”Chuva intensa repõe nível de reservatórios nas hidrelétricas”*
*”Crivella espera apoio de Bolsonaro, mas diz que já ganhou sozinho”*
*”Para Eduardo, é melhor Aliança só sair após eleições”*
*”Medidas que estabelecem regras para quarentena são votadas na Câmara”*

*”Contrato Verde Amarelo entra na pauta depois do carnaval”*
*”Governo ameaça deixar caducar MP do 13º do Bolsa Família”*
 - Relator fez alterações na proposta original, tornando o pagamento permanente
*”PF decide investigar secretário de Comunicação”*

*”Indústria confirma fraqueza e fecha 2019 com queda de 1,1%”*
*”Investimento deve cair 2% no 4º tri, diz Itaú”*
 - Forte queda da produção de bens de capital em dezembro indica recuo da formação bruta de capital fixo nos três últimos meses de 2019

*”Clima favorável embala colheita recorde de soja”*
*”Desembolso de crédito rural continua em alta”*
 - Montante somou R$ 116,7 bilhões nos sete primeiros meses da safra 2019/20, 8% mais que no mesmo período da temporada anterior
*”A dupla que aproxima a favela da bolsa”* - Canal Favelado Investidor fala de finanças pessoais para baixa renda

Fonte : Fundação Perseu Abramo