Privatização da Petrobras não foi conseguida pelo governo Bolsonaro, mas BR e Liquigás acabaram vendidas. Foto: Ascom/Petrobras
Um dos coordenadores da Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), Adaedson Costa, lembra que por volta de 2014 e 2015 a categoria começou a notar mudanças na relação da direção da empresa com os funcionários depois da operação Lava Jato ganhar o noticiário.
Denúncias chegavam relativas a pressões, petroleiros inquiridos, sem compliance, um ambiente tenso eivado de desconfianças mútuas, delações e também de cobranças indevidas aos caixas da empresa, como o do caso de investidores americanos que cobravam prejuízos de até R$ 60 bilhões.
“A Lava Jato atuou dentro da Petrobras, fora de seus limites. E isso era um golpe, e o golpe era contra a população, contra o Brasil, interesses bem além do combate à corrupção. Muito além do combate à corrupção (…) era o neoliberalismo destruindo a empresa para que fosse privatizada”, diz Adaedson.
Petroleiro com décadas de militância sindical atrelada ao Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), Adaedson lembra que houve “estardalhaço de que a Petrobras estava quebrada. Era um absurdo, mentiras, sabíamos que o mercado da empresa, a reserva, produção: nada indicava isso”.
Ele explica que o movimento sindical petroleiro entende que a Lava jato foi uma ferramenta contra o Brasil, “mas também ao neoliberalismo para dizer que ela (Petrobras) tinha de ser privatizada. Muita gente nos chamou de alarmistas, mas hoje se provou a verdade. O que falávamos se concretizou”, lamenta.
Desmonte
A intenção do último governo era privatizar a Petrobras, tanto que nos dois últimos anos do governo o movimento sindical petroleiro, que conta também com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), travou uma queda de braço com o Congresso Nacional para impedir a ideia de prosperar no apagar das luzes.
A Petrobras Biocombustível S.A. (PBIO) conseguiu se manter sob controle da Petrobras, e a própria Petrobras não foi privatizada. Já a BR Distribuidora e a Liquigás foram vendidas.
Como a Lava Jato conseguiu sabotar a empresa, enquanto dizia estar prendendo corruptos e recuperando bilhões, os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro aproveitaram para dar seguimento à privatização.
“O resumo da ópera é o seguinte: de 100% da empresa, a empresa foi reduzida a 40%. Transformou a empresa numa exportadora de petróleo, de commodities. Desarticulou completamente a empresa com os vários setores da economia. Reduziu a produção de refino para abrir espaço para importadores”, conta Adaedson.
Plano de Demissão Voluntária
Nesse contexto de que a ideia era privatizar, os novos gestores da Petrobras e subsidiárias sob os governos de Temer e Bolsonaro passaram a esvaziar a Petrobras com o Plano de Demissão Voluntária (PDV) para que os trabalhadores com idade de se aposentar pudessem sair.
“Teve um prejuízo técnico considerável. Por que nós somos contra o PDV? A empresa perde trabalhadores experientes, com conhecimento. Na nossa visão ele só pode ocorrer com concurso e depois da transmissão do conhecimento dos mais velhos para os que chegam”, explica Adaeson.
O escape de conhecimento pode provocar danos graves, erros técnicos e acidentes de trabalho. “Muitos acidentes de trabalho, depois disso, a Petrobras passou a colocar como incidente por conta dessas mudanças. Não são demissões voluntárias, mas pagas e incentivadas”, diz.
PDV como ameaça e privatização
O coordenador da FNP cita os casos da BR Distribuidora e Liquigás. “Quando a Vibra Energia comprou a BR, soltou um PDV. Caso não atingisse a meta, iriam demitir. Na Transpetro houve um PDV, mas poucas pessoas saíram”, explica. No caso da Transpetro, Adaedson faz uma ressalva.
“Tem uma força de trabalho que chamamos de cedidos, que são pessoas que passam no concurso da Petrobras e depois são cedidos para a Transpetro. Boa parte desses trabalhadores na Transpetro eram cedidos e a Petrobras os chamou de volta, simplesmente”, lembra.
Marca sobretudo o período de Bolsonaro na Presidência, o sindicalista lembra que houve perseguição aos trabalhadores, sindicatos e gerentes não alinhados. Na Petrobras, pessoas foram transferidas para lugares distantes da família e o PDV se tornou um instrumento de intimidação.